(Des)encontros

Não acreditava no amor. Pelo menos até hoje de manhã.
Saiu de casa apressado, sem café. Arrumou a camisa, correu.
As pessoas na rua denunciavam seu atraso.
Fez parar o ônibus, àquela hora já pouco abarrotado.
Ela estava lá. Não lá, na verdade. Mas sim do lado de fora do vidro sujo do transporte público.
Feição preocupada, mas não menos maravilhosa.
Na hora, resolveu chutar o mundo para o alto. Gritou alto e se fez atendido.
Desceu do ônibus, quase caiu, mas correu ao encontro dela. Só teve tempo de ver a sandália e a saia longa a se mexer, subindo em outro ônibus.
Atordoado, olhou. Por um momento, viu ser visto. Caminhou de volta para casa, já sem esperança do encontro.
Ela, porém, do outro lado do vidro sujo do transporte público, gritou e se fez atendida.

autoria: Julio Simões – data: 25/08/06

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