Dois lados

São Paulo, 29 de outubro de 2006, 20h32, na sala de estar...
- Pronto, Lu. Liguei. – disse ele, colocando o telefone no gancho.
- Ótimo, bem. Senta aqui, então. – respondeu ela, apontando o sofá bege.
- Ah, Lu. Você não sabe como foi difícil...
- Imagino. Mas você fez o melhor, tenho certeza.
- Eu fiz tudo certinho. Falei de educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, distribuição de renda, reforma agrária...
- É, falou.
- E ainda tive o escândalo do dossiê a meu favor!
- É, teve.
- Então me diz: onde foi que eu errei?
- Não sei. Só acho que você poderia ter falado mais firme, ter sido menos “chuchu”...
- Até tu, Lu!
- Esquece, vai. Foi só uma piada.
- Ok. Vou deitar, amor.
- Vai, Geraldo, vai. Só não esquece de deixar o cartão na cristaleira porque amanhã é dia de Daslu...

São Paulo, 30 de outubro de 2006, 03h21, num quarto de hotel...
- Marisa, foi lindo. – lembrou ele, desabotoando a camisa desordenada.
- É, amor. A Paulista estava maravilhosa. – respondeu ela, arrumando a cama.
- É, estava mesmo. Mas o melhor foram os 60%. É a força do povo!
- Foi mesmo. E agora, o que a gente faz?
- Ah, Marisa. Vamos retomar e ampliar o Fome Zero, manter o Bolsa Família e, antes de tudo, organizar uma nova reforma ministerial...
- Não, meu bem. Estava falando de amanhã.
- Eu sei. Amanhã a gente começa a planejar o primeiro ano do segundo mandato.
- Não! Luís, eu estou falando de amanhã, segunda-feira. Daqui a pouco, aliás.
- Ah, sim. Amanhã... sei lá.
- Então tá. Às oito e quinze a gente levanta, toma café e...
- Ah, Marisa Letícia... oito e quinze?
- Sim, oras.
- Deixa o homem descansar, vai... pelo menos mais quinze minutinhos.

autoria: Julio Simões – data: 30/10/06

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