O descritor e a encantadora

Descrevia as mulheres como ninguém. Desde pequeno, quando ainda tinha uns 13 ou 14 anos, já sabia extrair com um só olhar toda a essência, o humor e as características do sexo feminino.
Aos 17, resolveu ganhar dinheiro com a habilidade. Bem vestido, colocava seu chapéu no chão e, romanticamente, construía poesia sobre as mulheres que por ali passavam. Em pouco tempo, já tinha moedas, notas laranjas e bilhetes com telefones femininos.
Ficou nesta vida até os 25 anos e, por ética profissional, não se envolvia com nenhuma das “clientes”. Porém, um dia o pior aconteceu.
Aqueles cabelos longos, lisos e marrons pararam na sua frente. Com o olhar deslumbrante e gestos suaves, começou a falar. A voz, imagine você, era a coisa mais doce que já ouvira.

- Soube da sua fama e vim conferir – exclamou o monumento.
- Pois não... – respondeu ele, não completando a frase simplesmente por não ter palavras.
- Poderia escrever para mim? – retrucou ela, completando a frase com um sorriso ensolarado.
- Pois não... pois não posso fazer isso, moça – surpreendeu.
Nunca havia recusado trabalho durante todos aqueles anos. Podiam ser feias, lindas, mal cuidadas, produzidas, gostosas ou não. Não tinha preconceitos e, por ver alguma beleza em todas elas, continuava a descreve-las.

- Porque não? – disse surpresa, expressão que a deixou ainda mais bela, como se isso ainda fosse possível.
- Por que com esses olhos, essa boca, esse corpo e essa alma eu não vou conseguir parar de pensar em você. Seria meu fim – encerrou.
Depois disso, deixou a moça para trás, sozinha, e passou a tentar esquecê-la. Não dava.

autoria: Julio Simões – data: 02/09/06

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