Highlights 2006 - Tudo de bom (e ruim) do ano

Tapete vermelho, flashs e gente bonita. Bem que este poderia ser o cenário desta premiação. Entretanto, o panorama é outro: estou sozinho por aqui, não há sequer um fotógrafo para tirar uma foto minha abraçado ao computador e não enxergo nenhum tapete por perto. Mesmo assim, com adversidades e pouca popularidade, apresento-lhes o prêmio Highlights 2006.

Antes de mais nada, é fato que listas pessoais fazem sucesso em blogs e na internet em geral. Sim, você quer saber o que os outros gostam ou pensam, seja por interesses obscuros ou pura curiosidade mesmo. Observando essa tendência, decidi preparar o que de melhor aconteceu na minha reles vida em categorias, umas sensatas, outras nem tanto.

Para não se extender mais e ficar parecendo aqueles artistas chatos que quebram climas de ceriomônia com discursos intermináveis, aproveito apenas para dar os créditos do nome do prêmio. O engenhoso termo pode não ter sido cunhado por ela, mas é utilizado com maestria por Lui Pécora, jornalista e blogueira das melhores. Sem permissão nem copyrights, pego-o para dignificar o prêmio.

Música :
- banda: Los Hermanos (cada vez mais a fusão entre rock e mpb deles me agrada)
- álbum: Skins and Bones, do Foo Fighters (a coletânea acústica da minha banda internacional preferida relembra só bons momentos do grupo de Dave Grohl: 10!)
- show: Funk como le gusta, no Sesc Pompéia (no meu ano "música brasileira", palmas para os reis da ginga)
- surpresa: retorno de Chico Buarque aos palcos - já era tempo!
- decepção: na falta de uma mais específica, elejo o fato de não ter ido ao show do Chico em São Paulo.
- revelação: Moptop (ouça "O rock acabou", vale a pena)

Filme :
- o melhor: Trem da Vida (engenhoso roteiro e boas atuações; melhor ainda se visto no vão livre do Masp)
- o pior: talvez não seja, mas fico com Obrigado por Fumar (simplesmente por prometer e não cumprir).
- menção honrosa: Os Infiltrados (porque não faziam um filme de máfia assim faz tempo...) e boa safra de brasileiros (destaque para O ano em que meus pais saíram de férias, Zuzu Ángel, Cinemas, Aspirinas e Urubus)
- melhor atriz: a pequena e cativante Daniela Piepszyk, a Hanna de O ano em que os meus pais saíram de férias.
- melhor ator: o experiente e impagável Jack Nicholson, o Frank Costello de Os Infiltrados.

Livro :
- o instigante: Abusado, de Caco Barcelos.
- o sonífero: Redescobrindo o Brasil, de Rebeca Kritsch.
- o desejado: um livro de mini-contos (que eu não sei o nome) e o novo do Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Lugar :
- restaurante: Yellow River, comida chinesa (na alameda Santos, disponível nos planos ilimitado ou por quilo, baixo custo e atendimento cordial. Quer mais o quê?)
- rua: av. Paulista (por onde passo várias vezes ao dia e não me canso de admirar), com menção honrosa para rua Augusta (descobri em uma reportagem e a acho com a cara desta metrópole brasileira)
- barzinho: Geni (mpb + bom ambiente + amigos = boa pedida)
- passeio: concerto da Osesp na Sala São Paulo (vi 15 minutos do ensaio e já valeu a pena)

Futebol (porque esporte é muito abrangente):
- melhores momentos: Internacional e o mundo aos seus pés; menção honrosa para o Linense, agora na A-3.
- piores momentos: Atlético-PR eliminado por Adap, Volta Redonda e Pachuca.
- golaço: a bicicleta/voleio de Ronaldinho Gaúcho, menção honrosa para a "rapa" de Denis Marques na defesa do Paraná Clube.
- bola fora: Brasil na Copa do Mundo. Não requer mais explicações.
- assunto mais chato da crônica esportiva: Para onde vão Romário, Nilmar e Dagoberto?

Reportagens pessoais:
- a melhor: A primeira vez na Augusta, em parceria com Paula Rothman.
- a pior: cobertura de lançamento de camisas comemorativas de times brasileiros na Francal.
- a mais trabalhosa: Compro e vendo passes: o comércio ambulante de bilhetes de Metrô (pauta-relâmpago, uma das melhores coisas da faculdade até aqui).
- a mais engraçada: ambiente da estréia da Alemanha na Copa do Mundo, ao lado de alemães bêbados; menção honrosa para a do brasileiro desconhecido que corre motogp no Japão (detalhe: depois de meia hora na linha tentando compreender um dialeto nipo-brasileiro, descubro que ele não vai correr a prova importante - e tema da matéria. Por motivos óbvios, não foi para o ar).
- a que não fiz: entrevista com Mamma Bruschetta, personagem mítico da TV Gazeta, por problemas burocráticos.

Sei que podem ter faltado categorias e principalmente itens delas, mas paciência. Isso se aperfeiçoa com o tempo. E tomara que eu tenha outros anos de blog para poder reeditar essa premiação, tão gloriosa quanto trabalhosa. De resto, falta desejar ao intrépido leitor e à simpática leitora um feliz ano novo, com amor, saúde e felicidade - que é, convenhamos, resultado dos outros dois. Se 2007 repetir 2006, para mim já vai estar bom demais. Até lá, então!

Acredite! (se quiser...)

Tem coisas que você pode acreditar ou não, fica à seu critério. Era almoço de Natal, aquele tradicional que reúne as mesmas pessoas da noite anterior dispostas a comer exatamente tudo o que fora servido antes como se fosse novidade. Passado os comes e bebes, sentei me perto das tias, avó e mãe. Sem perceber - e cheio de tédio - acabei entrando em um teste "de uma psico-pedagoga aí", como justificou a organizadora da atividade.

Sentados em círculo e munidos com folha de caderno infantil e caneta, começamos a responder as perguntas que prometiam, ao final da análise, revelar quem era você. Praticamente um milagre. A primeira missão era enumerar três animais de seu gosto em ordem de relevância - sempre de acordo com sua opinião, claro. Para cada um, colocar três características que destaque e justifique a escolha.

Sem dizer o porquê das perguntas e já pedindo para colocar "o que você acha do mar", a tia organizadora do "conheça-te a ti mesmo" seguia adiante sem deixar os participantes pensarem. Na seqüência, emendou: "Agora, escrevam como deve ser uma xícara para vocês". A cara das participantes - umas sete mulheres e o intruso aqui - ia cada vez mais se tranformando em interrogação. E das grandes.

Adiante, pediu para dizer o que te representa um muro e como seria a primeira imagem de uma estrada. Para continuar a loucura, a tia-pseudo-psico-pedagoga perguntou o que faria com um molho de chaves que encontrasse no chão. Para cada pergunta era dado o tempo estimado de dois minutos, no máximo, período este completado com risadas de uns e sorrisos amarelos de outros.

Para completar o teste e não estender mais o texto para a curiosa leitora e ao paciente leitor, digo que foi pedido para descrever também a reação diante de um leão e de uma cachoeira em dia de calor. Uma de cada vez, vale dizer. Ah! E ainda teve outra sobre o muro: o que você faria diante de um muro que atrapalhasse seu caminho no final de uma trilha?

Assim, passados uma hora e meia aproximadamente, chegamos ao momento mais esperado. Uma a uma, as folhas foram sendo lidas e analisadas. A cada resposta, a confirmação de que se tratava mesmo da verdade. Até para este incrédulo blogueiro, a verdade dita ali na pequena sala do subúrbio de Castro (PR) era inevitavelmente verdade.

Sob gritos, aplausos e risadas à la chá das cinco na casa da avó, as pessoas descobriam como as pessoas as vêem (primeiro animal da lista, lembra?), como você se vê (segundo animal) e como é realmente (terceiro animal). Depois, mais euforia quando descobriam que o mar, na verdade, era a visão do amor para a pessoa, ao passo que a simples xícara era o sexo.

Pela ordem, o muro era a alegoria da morte, enquanto a estrada representava a ambição de futuro. O molho de chaves, acreditem, revelava como você lida com os amigos. Já o leão, como você enfrenta o medo. Por fim, vale dizer que a cachoeira era a metáfora do casamento e o muro no final da trilha dizia como você encara a morte realmente, não apenas como você a enxerga.

A sala ficava perplexa a cada nova resposta e passava a acreditar nas palavras da tia, já chamada por alguns naquele momento de "vidente". Enfim, tirando o fato de que as primeiras respostas (e a maioria das outras) só apontavam pontos positivos do caráter de cada um, fica a dúvida: será que por adjetivos em resposta à alegorias é possível saber como uma pessoa age em seu íntimo? É de se pensar.

O golpe

Acordou com o tilintar do telefone. Eram nove e meia da manhã e ele, ainda com o rosto inchado, correu de meias pelo chão de madeira até o aparelho. Quando atendeu, a surpresa.

"É Rodolfo?", disse a voz grossa do outro lado.
"Ele mesmo. Quem fala?", respondeu.
"Não interessa. Ele tá com a gente"
"Ele?"
"Ele. O Luís, seu irmão. E é melhor começar a pensar em arranjar a grana se quiser ver ele de novo"

Ele gelou. Pelo menos até perceber uma coisa.
"Hum... mas como, se eu não tenho irmão?"
"..."
"Alô?"
"É, então... vai dizer que não conhece o Luís? Ele disse ser seu irmão"
"Disse é? Mas não é."
"Então é o que?"
"Nada, simplesmente não sei quem é"
"Hum, então espera um minuto"

Ao fundo, ouviu sussurros. Só conseguiu pescar uns palavrões e coisas como "quem é, então?" e "vai pedir o quê agora".
"Pois então, seu Rodolfo. A gente achou que seqüestrou seu irmão, mas pelo jeito não é"
"E?"
"E a gente queria pedir desculpas pelo engano"
"Ok, aceito. Mas soltem o rapaz, pelo menos"
"Ah, isso já não sei. Vamos ver"
"Vocês quem sabem..."
"Então é isso. Tchau"
"Tchau"

Desligou o telefone e após cinco segundos de reflexão tomou novamente o aparelho, discou correndo os oito números e esperou. Era o irmão do outro lado, são e salvo. Quando a ficha caiu, percebeu que tudo era falso, desde o pedido de resgate ao de desculpas. Diante disso, sentou-se no sofá e gargalhou. Era o melhor trote de sua vida.

autoria: Julio Simões - data: 26/12/06

Delírios escritos em uma madrugada qualquer

Amanda era o nome dela. Roqueira, mas também sensível e paciente. Linda. Era tudo o que queria ter aquela noite, mas a perdeu. Infelizmente a perdeu. O que lembra agora é de Amanda, Vespasiano, lábios pequenos, Maringá, Psicologia. E só. A teve nas mãos e a perdeu. Amanda, amada, Amanda.

Santos, sempre Santos

Estive em Santos nesta quinta-feira. Ante que perguntem, não vi o mar. Embora o calor estivesse propício para um banho de água salgada - estimo uns 50º - fui ao litoral paulista para acompanhar a molecada do Santos que irá disputar a Copa São Paulo de Juniores em janeiro. Foi bem legal, apesar dos imprevistos e do suor que me deixava cada vez mais insuportável para mim mesmo.

Deixei São Paulo às 7h30 da manhã e encarei a estrada com um motorista da Fundação. "Olha, você sabe aonda fica esse lugar", disse ele, apontando o papel com o nome Academia da Vila Belmiro. "Não...", respondi. "Então somos dois", completou. Estava armado o primeiro problema. Uma hora e meia depois e um erro no caminho que nos custou uns 15 minutos, chegamos a Santos.

Diante do estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro, solicito a entrada à uma atendente loira e sonolenta. Ela pede ajuda ao segurança gordo, que sobe para ver se me liberam. Minutos depois, porta na cara. Pouparei os leitores dos detalhes da discussão com o gordo e a loira, mas vale citar que até invadir o estádio eu tentei - sem sucesso, como era previsível.

Localizei o motorista e rumamos ao CT Rei Pelé. Após outro erro de caminho do nobre condutor, chegamos ao local. Era o ápice do sol do meio dia e já começava me preocupar a possibilidade de voltar de mãos vazias. Mesmo assim, consegui localizar um assessor de imprensa e só aí as coisas melhoraram. Ele me indicou aonde os atletas chegariam e, depois de 15 minutos, consegui as entrevistas.

Na volta, o tão falado motorista resolveu voltar logo para casa e finalmente impôs a velocidade necessária para uma highway - na ida, vale dizer, o tal foi "passeando". Em menos de uma hora, atingimos a capital paulista e em outro surto brilhante, o condutor (desculpe, já foram todos os sinônimos) optou por um atalho. Não preciso dizer que demorou mais que a viagem em si.

Se não bastasse tudo isso, chego na redação para escrever a matéria e sou comunicado do adiamento das minhas férias, que seriam em janeiro, para o longínquo mês de julho. Ou seja, adeus viagem para a Argentina. Mas isso não é importante, afinal é Natal. E outra: meu humor devia estar excelente, porque em nenhum momento me irritei. Até me diverti, confesso.

Links úteis (ou não, você quem sabe!):
Santos aposta em preparação e conjunto para quebrar jejum
Inexperiência pode atrapalhar, diz técnico do Santos
Luxa de olho no Santos da Copinha

O que eu vou fazer agora?

"Um muito boa noite e obrigado". É dessa forma que Jô Soares acabou seu programa - e assim o faz todos os dias. São 1h45, as luzes dos prédios ao redor já são raras e na rua - ou pelo menos na visão que se tem - os carros já não passam como antes. Não sei se é melhor ficar acordado para dormir mais durante o dia ou o contrário. O fato é que a rotina está me matando.

Isso porque, salvo um dia ou outro, eu sempre sei o que vai acontecer. Não que normalmente isso não aconteça, afinal não sou alguém que pode dizer ter uma vida atribulada. A diferença é que, em dias normais, eu encontro pessoas que motivam o meu cotidiano em diversos momentos e situações. Agora, porém, não acontece isso. Constatei hoje que estou de férias há 25 dias. E pergunto (a mim mesmo, o leitor não tem nada com isso): o que eu fiz?

Um show do Los Hermanos, uma festa de aniversário animada, uns dias na praia, uma sinuca relaxante. E só. Diante disso, a bela leitora ou o amigável leitor poderia exclamar: "Mas não tá bom?" Digo que não. Isso são cinco dias , no máximo. Nos outros, fiz a mesma coisa. Acordei (tarde, geralmente), vaguei pela casa à procura de nada específico, me preocupei com o almoço - exceto terças e quintas, pensei em ir no cinema, dormi torto no sofá e acordei ainda mais cansado, fui trabalhar. Não necessariamente nessa ordem, é claro.

E a cada novo dia, penso no seguinte e vejo tudo de novo. Vislumbro ao longe uma viagem para terras argentinas, outra para o Paraná e, por fim, Promissão. Só que não adianta, o duro são os outros dias. Várias vezes eu penso na questão básica do ócio nada criativo, a corriqueira "o que eu vou fazer agora?". E nada! Leio outros blogs, penso em idéias para minhas fracas aventuras literárias publicadas aqui, tento organizar mentalmente uma mini-retrospectiva pessoal. E nada! A mesma pergunta me veio minutos atrás, ao ouvir o tchau do Jô. Agora, me diga: desligo o computador e o Foo Fighters e vou dormir ou saio pela casa em busca de nada?

Noite feliz

Atingiu em minutos a rua, levemente úmida graças à garoa que caíra há pouco. As luzes do canteiro já lhe denunciavam que a época era diferente há algum tempo, mas aquela noite era "a" especial. As pessoas com quem cruzara também diziam, mesmo que por sorrisos sinceros, que era a hora. Caminhou o mais lento que podia, afinal a sensação de receber a atenção dos olhares anônimos na rua era incrível.

Não caia neve, mas bem que podia. O clima fresco lhe fez tirar ali mesmo o paletó, companheiro de cotidiano (menos sábado e domingo, quando optava por um short e ia ver o sol se pôr no Ibirapuera). As mulheres estavam mais bonitas. Todas. Os homens, menos estressados. Todos. E isso lhe deixara incrivelmente alegre.

Chegou no apartamento, cumprimentou o porteiro - que deixou de cobrar a caixinha de final de ano para desejar um eficaz "boa noite". Abriu a porta do elevador e deu de cara com uma velhinha e seu cão - inquieto, vale dizer. Na mão, um vaso de flor. Ajudou com destreza a conduzir o rebelde animal até o portão e voltou. Enfim, subiu ao 108.

Abriu a porta, secou os pés no tapete "seja bem-vindo", acendeu a luz. Ninguém. Foi à cozinha. Só os pratos sujos. Ao quarto. Só a cama desarrumada. Não havia o que estranhar, não morava com ninguém mesmo. Voltou à sala, tirou a gravata que lhe sufocava e sentou no sofá. Olhou o vazio. (...), (...), (...). Instintivo, levantou abruptamente e ficou parado, em pé. Pensou em si mesmo por alguns segundos. Correu à mesa, pegou a chave da porta e desceu novamente à rua. Foi ser feliz.

autoria: Julio Simões - data: 18/12/06

De algum lugar do atlântico sul...

Ultravioleta
De algum lugar do atlântico sul...
Foto carregada no Flickr por
jhssimoes.

Ultravioleta, areia, mar, cadeira de plástico, copos, porção de mandioca frita, samba, camarão with garlic and oil, bola de plástico porcaria, funk proibidão, queijo de coalho, o bêbado/criminoso Ceará, pastelão (em 81 tipos!), promoção no supermercado, amostra grátis de Cup Noodles, porção de polenta frita, chuvisco, escondidinho. Estes? Só alguns highlights da praia...

Simples assim

Entrou esbaforido no pequeno apartamento, vindo do interminável lance de escadas. O elevador já estava quebrado havia uma semana, mas nem o fato de ter de se exercitar nos degraus o tirava do sério. Afinal, era sexta-feira. Um pouco chuvosa, mas ainda sexta-feira.
Abriu a porta, largou o chaveiro na cristaleira e percebeu algo estranho. Não sabia o quê, mas alguma coisa estava fora do lugar. Talvez fosse a luz apagada da sala de estar – o que nunca acontecia, graças à regra estabelecida entre os dois para mostrar movimento no imóvel.
Podia ser também o barulho, ou melhor, a falta dele. Mesmo assim, tudo estava no lugar, apesar de escuro e silencioso. Caminhou até a mesa de jantar e percebeu um papel. Era uma carta. Ao lado, uma rosa desbotada e com espinhos, como aquelas guardadas dentro de livros.


Amor,

Não pense que foi falta de carinho ou paixão. Te deixo apenas por saber que foi suficiente o que vivemos juntos. Acredite, foi intenso e bonito. Desculpe o clichê, mas foi bom enquanto durou. Se cuida.

Beijos,
De seu agora ex-amor.
Leu as curtas linhas do papel brochura e ficou estático. Por um minuto, pensou em tudo que vivera ao lado dela e das alegrias que teve naquele período. Sua despedida era surpreendente, mas no fundo entendia seus motivos.
Largou o papel, foi a cozinha e procurou algo dentro da gaveta do armário. Desistiu. Abriu a geladeira, pegou uma lata e foi à sacada. Abriu o anel e tomou o primeiro gole. Afinal, era sexta-feira. Um pouco chuvosa, mas ainda sexta-feira.

autoria: Julio Simões - data: 04/12/06

A verdadeira magia do voleibol

Ah, as meninas do vôlei... Não poderia começar texto algum sem estufar o peito e suspirar sobre as tais jogadoras. Logo na entrada do ginásio Lauro Gomes, em São Caetano do Sul, é possível ver as largas arquibancadas e as riscas da quadra azul e laranja. No centro dela, as elogiadas jogadoras se preparam para o que estava por vir: a decisão do Campeonato Paulista feminino de voleibol.
As longas pernas se mexiam dentro de pequenos shorts procurando o bom alongamento antes da partida. Sentadas no chão, elas esticam a perna mais alto que a cabeça, cruzam os braços, fazem flexões. Tudo com uma facilidade extremamente impressionante para um adepto do sedentarismo. A rotina já cansativa para as atletas parecia servir também para aumentar o nervosismo pré-decisão, já que algumas pareciam inquietas em volta da quadra.
Mesmo assim, era evidente a alegria das atletas em praticar o voleibol. O sorriso no rosto das jogadoras, as brincadeiras com o técnico de jeito durão e a ajuda mútua entre elas tiravam da disputa o aspecto de decisão. Assim, mesmo com o início da partida, o clima era de disposição e alegria.
Da arquibancada, era possível ver a expressão no rosto das meninas, todas lutando bravamente pelo título. De um lado, o experiente Finasa/Osasco de Luizomar de Moura. Do outro, o surpreendente São Caetano/Mon Bijou de Antônio Rizola. Confesso que estive mais ao lado das jogadoras de São Caetano, não sei se por serem evidentemente mais fracas e isso requerer mais torcida ou por querer ver a decisão ir para o terceiro jogo – isso porque o Osasco venceu a primeira na chamada "melhor-de-três" e se o time da casa vencesse, adiaria a decisão.
O jogo, aliás, começou morno demais para uma decisão. Enquanto o primeiro set foi todo de Suelle, Karin e Nine do São Caetano, o segundo foi completamente de Paula Pequeno, Carol Gattaz e Valeskinha do Osasco. No terceiro, porém, o jogo pegou fogo e foi avançando em disputas ponto a ponto, sem que nenhuma das equipes abrisse vantagem. Mesmo assim, os anfitriões conseguiram somar-se a torcida e faturaram o set.
Contudo, quando o São Caetano tinha tudo para fechar o jogo e levar a decisão para sábado, novamente em casa, o time não teve tranqüilidade suficiente e perdeu. Assim, no quinto set (ou tie-break para os entendidos), o Osasco fez valer a experiência e, apesar da luta incessante do São Caetano, conquistou seu oitavo título estadual, sendo o sexto consecutivo.
No final, enquanto as jogadoras do Osasco davam um banho de água gelada no treinador e interpretavam a "dança do siri" durante as comemorações, a torcida do time da casa – que já tinha de conviver durante a partida com os gritos de "ão, ão, ao, segunda divisão" relativos ao time de futebol – saia cabisbaixa. É, mesmo sabendo que o importante é competir, não é fácil ver metade das meninas do vôlei deixando a quadra com os olhos vermelhos.

A musa – Os suspiros destinados às meninas do vôlei na decisão do Paulista feminino não mereceriam abrir este texto e nem sequer ganhar uma retranca como esta caso ela não estivesse em quadra. Vestida com a camisa azul do Mon Bijou e com os cabelos levemente loiros fortemente presos, a ponta Suelle literalmente embelezava a quadra do Lauro Gomes.
Natural de Curitiba (claro que tinha um "quê" de Paraná, eu sabia!), a atleta de olhos claros do São Caetano, além disso tudo, ainda foi um dos destaques da equipe no torneio e na partida. Porém, a antes sorridente Suelle passou a adotar uma cara mais fechada e menos ensolarada ao final das disputas. Mesmo assim, não deixou de atender aos repórteres ali presentes com a característica simpatia.
Passado o choque, deixou a quadra com as companheiras, a quem dedicou um forte abraço após o final do jogo. Com os olhos marejados, saiu provavelmente para não assistir à comemoração do Osasco. Mesmo assim, sem o título, ainda vale o conselho: guardem esse nome. Suelle provavelmente vai figurar entre as selecionáveis brasileiras na Olimpíada de Pequim, em 2008.

Links úteis (ou não):
Treinador do Osasco destaca ajuda de vice-mundiais na conquista
Homenagem marca festa do Osasco
Rizola: “Nós somos os verdadeiros campeões”

Nasce a flor

Existem imagens que marcam época e remetem a momentos que, a cada nova lembrança, trazem de volta àquele instante.
Os dedos devidamente entrelaçados e os braços dados compunham a união dos dois naquela noite. Ela, mais feliz do que nunca, esperava por aquilo há algum tempo e por isso o sorriso vinha fácil. Ele também se sentia à vontade perto dela e o contato entre os dois lhe dava segurança.
A rua não era das mais românticas, mas o fato de estarem ali deixava tudo mais especial. O passo tinha um ritmo próprio e apropriado, enquanto a conversa acontecia solta, sem hiatos.
Não sabia se ele correspondia ao sentimento, que já era mais forte que ela. Mas não importava, o bom era estar ali. Para ele, aquela moça fazia bem, mexia com suas impressões. Pois é. Ali começava a Primavera.

autoria: Julio Simões – data: 26/10/06

Só para constar

Sei que o espaço não é para isso, mas confesso que ando meio sem idéia mesmo - vide último post, provavelmente o pior do mundo. Talvez agora que a inspiração está longe pode ser que eu passe a pôr receita de bolos ou letras de música. Ou não.

Enfim, isso tudo foi só pra justificar a minha ausência (física e psicológica), obviamente visível aos olhos do nobre leitor deste espaço. Rezem por mim e por minha criatividade, já bastante abalada com o final de ano/bimestre/mês/salário. Volto logo, prometo.

Ps.: E um brinde aos 500 leitores(as), conseguidos em apenas 45 dias de blog!

O que a falta dela não faz...

- CADÊ ELA? - levantou ele bastante suado, ainda em sonho.
- Ela quem, querido? - respondeu ela, ainda sonolenta e sem ciúmes.
- ELA!
- Pára de gritar...
- Ela se foi...
- Ela quem, meu Deus!
- ...
- Tudo bem?
- ...
- Ei, acorda!
- oi.
- Quem é ela?
- Humgs, humgs...
- Dormiu...

algum tempo depois...

- LÁ VEM ELA!
- zzzz.
- OLHA LÁ!
- hum?
- ELA! ELA!
- Quem? Quem?

E ele, passado o pesadelo, voltou a dormir subitamente e a sonhar com o retorno dela. Ela? Ah, muitos a conhecem como criatividade, mas pode chamar de idéia mesmo.

Minicontos indolores

A rua parecia monótona, como todos os dias. As pessoas na calçada, então, ainda mais chatas. Nada parecia destoar de um dia qualquer. A volta para casa era assim mesmo, sem graça. O fone continuava no ouvido e a atenção longe. Até que, num instante e não mais que de repente, veio “a” idéia.
Nada tinha vindo tão rápido e tão ideal quanto aquela idéia. Pensou em tirar a caneta e o bloco do bolso para anotar, mas achou desnecessário. “É tão boa que não tem como esquecer”, pensou. Dito e feito: a idéia maravilhosa foi-se na velocidade com que havia vindo e, como o papel e a caneta continuaram na bolsa, não foi possível reproduzi-la aqui.
...
O restaurante era vazia àquela hora. Vazio e frio. Enquanto ele combatia o tédio com uma folha de papel, ela buscava o self-service para encarar o segundo turno do dia. Foi então que sentaram frente a frente. Em mesas diferentes, porém. Os olhares pouco se cruzaram, mas uma vez foi suficiente. Ele a convidou para sentar na mesma mesa, ela aceitou.
Entre bate-papos e sorrisos de prazer, combinaram um segundo encontro – o que, convenhamos, é o mais complicado. A partir daí, todos vocês, caros leitores, já podem imaginar o final. Pode parecer um novo caso de amor ou apenas uma propaganda de uma marca famosa de refrigerante de rótulo vermelho. Fica a seu critério.

autoria: Julio Simões - data: 13/11/06

Aos que vislumbram o novo e tem coragem de buscá-lo

Os bravos finalmente chegavam ao ponto mais alto do lugar. Dispostos hierarquicamente, todos carregam o desejo de conquistar e desbravar o interior daquela terra ainda selvagem. À frente, dois homens a cavalo abrem caminho para o restante da expedição. De um lado, o chefe português domava o animal com a experiência de um típico montador. Do outro, o guia indígena alertava para os perigos da traiçoeira trilha.
Logo atrás, o grupo formado por cerca de 20 corajosos trazia as riquezas recolhidas pelo caminho. Dentre eles, estavam índios, negros e portugueses, todos denunciados por detalhes característicos, como a presença da cruz em corpo nu nos nativos já catequizados e de barba nos europeus. Nas costas, o bando trazia a canoa tantas vezes utilizada para avançar pelos rios do interior, tudo em busca dos tesouros que ouviam existir, mas que ainda não haviam sido encontrados.
A união do grupo era visível, uma vez que a tarefa de invadir e conquistar não eram das mais fáceis. Mesmo os que estavam ali por punição ou aprisionamento pareciam estar dispostos a cumprir os objetivos, até para garantir a sobrevivência.
Só que naquele momento, o topo fora enfim alcançado. O desejado parecia estar perto, já que o esforço demonstrado indicava a proximidade da glória. Assim, direcionados no eixo sudeste-noroeste, os heróis bandeirantes seguiam em busca de um único sonho: o mundo novo.

autoria: Julio Simões - data: 09/11/06
[obs.: texto produzido para Português - um dos raros daqui que tiveram utilidade...]

Atualizado dia 21/11: E este texto impressionante-impressionista ganhou 10! Aê!

Só um parênteses

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Gigante pela própria natureza

12h20. A avenida Paulista já estava movimentada, mas o burburinho frente ao prédio da Fnac era maior do que o normal. Alguns jornalistas já se reuniam à espera do convidado. Eis então que aponta do outro lado da rua, na esquina com a alameda Joaquim Eugênio de Lima, uma figura vestida com roupas tradicionais chinesas e de estatura fora do normal.
Corre-corre de fotógrafos, repórteres e curiosos param o conturbado trânsito da mais famosa rua de São Paulo e assistem a passagem de uma jovem moça em cima de uma perna-de-pau, que logo vira foco das câmeras e lentes. Alarme falso. A moça é Ligia Fontes Bento e a pegadinha é do humorístico Pânico na TV.
Na verdade, a figura aguardada era Xi Shun, chinês de 55 anos e longínquos 2 metros e 36 centímetros. Considerado pelo Guiness Book como sendo o maior homem do mundo, Shun está em São Paulo para divulgar o lançamento da edição 2007 do livro dos recordes e era o motivo da apreensão do batalhão de repórteres.
Porém, somente às 12h28 é que Xi Shun deu o ar da graça. Chegou dentro de uma larga van e, acompanhado por assessores pessoais, atravessou a rua até a livraria-café da Fnac. A cada passo amparado por sua bengala de exagerados 1,30 metros, o gigante chinês atraia mais curiosos em procissão. A expressão dos presentes era de espanto, graça e admiração. Tudo ao mesmo tempo.
Também, pudera. O homem calça sapatos de número 57, precisou unir uma cama de solteiro à king size disponibilizada pelo hotel para não ficar com os pés para fora e, apesar da fisionomia magra, pesa 117 quilos. Logo as câmeras amadoras e de celular entraram em ação para registrar o que o livro dos recordes explica em fotos comparativas a pessoas de diferentes estaturas.
Já dentro do pequeno café, o aparentemente tímido chinês começa a demonstrar suas medidas. Coloca a mão larga frente a frente com a de um dos espectadores e faz a festa dos fotógrafos. Autografa alguns livros e é invadido por microfones sedentos por respostas às perguntas como “a altura atrapalha?”, “já jogou basquete?” e até “é difícil arrumar namorada com este tamanho?”. Porém, não vê a brincadeira do programa Pânico com relação à proporcionalidade de sua altura com seu órgão sexual.
Demonstrando exaustão tão grande quanto à dos repórteres presentes – mas nunca deixando de sorrir –, Shun anuncia pelos assessores que vai embora, pouco mais de meia hora depois de chegar. Ainda assina alguns livros azuis e espelhados, atitude que faz a alegria de um grupo de crianças desesperadas por um risco do gigante.
Após novo empurra-empurra, o paciente oriental agüenta mais dez minutos de sessão de fotos na porta da Fnac. “Ele não se incomoda com esta super-exposição?”, pergunto a uma assessora que o acompanhava. “Não, ele lida bem com isso. É super simpático”, responde ela, prestativa.
E, novamente em procissão, a multidão acompanha o gigante e sua bengala até o carro, que já o esperava na calçada. Mais flashes. Principalmente quando o recordista Xi Shun repete a cena que mais está acostumado a fazer: abaixar para entrar e sair dos lugares.

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A moderna fábula de Clara

Clara tinha um sonho. Desde pequena, o ímpeto aventureiro de Indiana Jones e a curiosidade de Tintin a ajudavam a vencer os problemas e aflições. Porém, seu maior desejo era voar. Não apenas pelo prazer de alcançar os céus, mas também para ver o mundo de cima e sentir a liberdade. Ser livre, aliás, era o que desde sempre perseguiu.
Só que como a vida imita a arte e os vilões não existem só na tela, o desejo de Clara acabou sufocado. A dupla Rotina-Conformado, tão malvada quanto Pingüim-Charada foram ao Batman, acabaram por destruir suas vontades. Armados com o esquema “escola-cinema-clube-televisão”, bem cunhado por Renato Russo, a dupla do mal bloqueava Clara.
Mesmo assim, a menina não demonstrava fraqueza e não se deixava contaminar pelo comodismo. Queria voar a todo custo e um dia, enquanto via a cidade pela janela, decidiu se vestir com a capa da coragem e as asas pueris, abriu a porta e jogou-se no mundo.

autoria: Julio Simões - data: 01/11/06

Drops eleitorais

Ok. Tinha até preparado uma foto para caso Lula fosse derrotado no segundo turno, mas como isso não aconteceu - e nem tinha foto alusiva a derrota alckmista (!) - vou postar o "achado" mesmo.
Como se pode ver, a foto é de uma caçamba de construção e foi batida na alameda Santos, ainda antes do primeiro turno. Algum dos 37.543.178 eleitores do candidato do PSDB resolveu fazer uma graça e transformou o simples monte de terra em um túmulo, com cruz (nomeada, inclusive) e flores. Detalhe para a atuação de Pedro "Schumi" Araújo, lamentando o ocorrido.

Dois lados

São Paulo, 29 de outubro de 2006, 20h32, na sala de estar...
- Pronto, Lu. Liguei. – disse ele, colocando o telefone no gancho.
- Ótimo, bem. Senta aqui, então. – respondeu ela, apontando o sofá bege.
- Ah, Lu. Você não sabe como foi difícil...
- Imagino. Mas você fez o melhor, tenho certeza.
- Eu fiz tudo certinho. Falei de educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, distribuição de renda, reforma agrária...
- É, falou.
- E ainda tive o escândalo do dossiê a meu favor!
- É, teve.
- Então me diz: onde foi que eu errei?
- Não sei. Só acho que você poderia ter falado mais firme, ter sido menos “chuchu”...
- Até tu, Lu!
- Esquece, vai. Foi só uma piada.
- Ok. Vou deitar, amor.
- Vai, Geraldo, vai. Só não esquece de deixar o cartão na cristaleira porque amanhã é dia de Daslu...

São Paulo, 30 de outubro de 2006, 03h21, num quarto de hotel...
- Marisa, foi lindo. – lembrou ele, desabotoando a camisa desordenada.
- É, amor. A Paulista estava maravilhosa. – respondeu ela, arrumando a cama.
- É, estava mesmo. Mas o melhor foram os 60%. É a força do povo!
- Foi mesmo. E agora, o que a gente faz?
- Ah, Marisa. Vamos retomar e ampliar o Fome Zero, manter o Bolsa Família e, antes de tudo, organizar uma nova reforma ministerial...
- Não, meu bem. Estava falando de amanhã.
- Eu sei. Amanhã a gente começa a planejar o primeiro ano do segundo mandato.
- Não! Luís, eu estou falando de amanhã, segunda-feira. Daqui a pouco, aliás.
- Ah, sim. Amanhã... sei lá.
- Então tá. Às oito e quinze a gente levanta, toma café e...
- Ah, Marisa Letícia... oito e quinze?
- Sim, oras.
- Deixa o homem descansar, vai... pelo menos mais quinze minutinhos.

autoria: Julio Simões – data: 30/10/06

A Alegria. O Triste

Dizem que a Alegria e o Triste são sentimentos opostos. Pode ser, mas é verdade também que eles podem conviver juntos, num mesmo instante.
Para ela, era um dia especial. Os preparativos para aquela noite, mesmo que não fosse exclusiva entre os dois, a deixavam extasiada. Os olhos bem abertos e brilhantes, as mãos inquietas e o sorriso radiante.
Para ele, o fato de ter que estar presente só fazia sentido pela amizade com o outro. As horas chegavam e ele se revezava entre cigarros e café. Os olhos semicerrados, as mãos inquietas e o sorriso amarelo.
Na hora do parabéns, ele viu a Alegria como nunca, emocionante, irresistível. E tudo aquilo não era para ele. Ela, no entanto, não reparou o Triste no canto, segurando o copo, melancólico. E tudo aquilo era por ela.

autoria: Julio Simões - data: 06/10/06

Decisões

Tinha os olhos vermelhos, marejados de emoção. Mãos trêmulas se movimentavam freneticamente. Paletó preto e torto, camisa branca levemente amassada. Ainda não tinha colocado a gravata.
Certamente era o dia mais feliz da sua vida, à exceção de quando conseguira seu primeiro emprego e quando conhecera Lúcia. Aliás, ela era um dos motivos para ele estar ali, sentado num banco de madeira já castigado, com as mãos frias e o rosto avermelhado. Sozinho, numa sala ao fundo da capela, olhava o rádio antigo narrando sua outra paixão.
Era o dia mais feliz da sua vida e também o mais difícil de enfrentar. Não pelo casamento, delicadamente preparado pela futura esposa, mas pela final de campeonato que acontecia ao mesmo tempo.
Como poderia adivinhar que o pequeno América de Tangamandápio chegaria à final do Regional? E justamente no dia do se casamento! Largar a carinhosa esposa sozinha ao altar seria um erro. Tentar mudar a data do casamento faltando uma semana só evocaria a fúria da mulher amada. O jeito era ouvir pelo rádio do padre, também torcedor do Ameriquinha.
Começa o casamento, a bola rola. Entra a noiva, o time saúda a torcida. A música nupcial cortava o silêncio, os fanáticos espectadores entoavam o glorioso hino do time. Começa o jogo.
Enquanto o padre falava, o celular do apaixonado apitava. Era sinal de que alguma coisa acontecia no jogo. Olhou discretamente para o bolso da calça e... um a zero, e pro América!
Nisso, não conteve a euforia que o dominava, não agüentava ficar calado diante de tal resultado. De repente, cortando o silêncio típico de uma igreja, ele sentiu toda a força de sua paixão pelo time saindo pela boca:
“Goooooooooooool!”, fez ecoar pela capela adentro. Naquela hora, correu para o fundo do local e foi conferir o tento no radinho. A igrejinha ficou perplexa, imaginando que ele abandonaria o ritual tão aguardado pelo futebol.
Mas ele voltou, acelerou-se a cerimônia e assim que o também fanático padre proclamou o tradicional “declaro-os marido e mulher”, o homem que se dividia entre duas paixões foi comemorar o título nas ruas, sem lembrar que agora tinha responsabilidades de homem casado a cumprir.
“Mas foi por uma boa causa, Lúcia”.

autoria: Julio Simões - provavelmente 23/08/2005

A manhã

As manhãs são realmente algo de uma beleza sem comparação. Principalmente porque, a cada nova manhã, as coisas se renovam. Um novo ar, uma nova luz, um novo dia. O momento coroa o esquecimento dos problemas de antes e a espera pela chegada de outros depois do nascimento do astro-rei. Mas isso só depois de um gole de café e um sorriso na janela. Simples assim.

Primeiros momentos de um domingo de sol
créditos: Julio Simões - data: 22/10/06 (05h05)

Do céu ao inferno

Era realmente o lugar mais belo que encontrara. Mesmo entre prédios e diante da correria da cidade, era lá que gostaria de encontrá-la. Quinze minutos depois, se cumprimentaram e buscaram o banco mais próximo para sentar e conversar.
Olhares tímidos, poucas falas. Predominavam os monossílabos e os sorrisos discretos.
- Eu queria te dizer... – começou ele, com a voz trêmula e as mãos impacientes.
- Não faça isso. – interrompeu ela, pondo o indicador nos lábios dele.
- Mas, porque?
- Eu gosto dele.
Depois disso, vieram os cinco segundos mais longos de todos os tempos, momento em que os prédios ao redor caíram e o caos fora instalado. Deixou-a para trás e, embora cambaleante, seguiu pela vida sem rumo.

autoria: Julio Simões - data: 31/08/06

Fugaz

Saiu de casa apressado. Carros, calçado, mendigo. Olhou para o chão, colocou as mãos no bolso e se adiantou. Tênis sujos, buraco, saco de lixo. Esbarrou em vultos, xingou. Atravessou a rua no sinal vermelho. Motos, faixas, correria. Passou a porta de vidro e sentou na frágil mesa. Pediu um café. Dormiu.

A pressa típica dos carros na av. Paulista
autoria e créditos: Julio Simões – datas: 21/08/06 (texto) e 07/10/06 às 20h17 (foto)

Norambuena: O Plano

nota do autor: Bem, a história a seguir foi pensada como trilogia, divididas à la Euclides da Cunha. Porém, como só consigo escrever se já tiver o final definido na cabeça, este texto não teve a devida continuidade. Mesmo assim, decidi publicá-lo - apesar de ser considerado grande para um blog. Enfim, se depois de ler você tiver alguma idéia de final, coloque-a nos comentários. Quem sabe eu não continuo?

Acordou com o sol batendo no rosto, embora a fresta existente na cela de mais ou menos seis metros quadrados fosse mínima. Lembrou-se pouco da noite anterior, já que os dias pareciam se fundir devido à monotonia em que vivia na penitenciária de Presidente Bernardes, interior de São Paulo. Estava lá desde 2003, depois de ter sido condenado a 30 anos de prisão pelo seqüestro do publicitário Washington Olivetto.
Entre livros e o jornal diário, o chileno Maurício Hernandez Norambuena passava os dias lendo e rabiscando algumas coisas em um caderno brochura com a marca do Governo do Estado de São Paulo, provavelmente adquirido ou furtado de um dos carcereiros.
Na manhã daquela sexta-feira, ao abrir a Folha de São Paulo – conseguida com um dos vizinhos de cela - deparou-se com uma notícia sobre ele próprio. Dizia que ele tinha passado todo seu know-how aos traficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), responsáveis por ataques ‘estilo guerrilha’ nas ruas da maior cidade do país. A reportagem não estava de toda errada. Dizia que ele era amigo de Marcola e estava certa: o companheiro distava apenas três celas à esquerda da dele. Comunicavam-se quase que diariamente, por meio de códigos – outro acerto do jornal - e por bilhetes passados cautelosamente nos momentos de descuido dos policiais.Maurício Hernandez Norambuena - AFP
Ficou apreensivo ao saber que estava sendo acusado de ser mentor de uma série de ataques a São Paulo. Mas não gostou mesmo de ler, logo nas primeiras linhas, a palavra “terrorismo”, ainda mais precedida por “táticas de”. O que conversara com Marcola há quase um ano era sobre a luta revolucionária que se fazia necessária em toda a América Latina, não terrorismo. As táticas de guerrilha já eram conhecidas do líder do PCC e Norambuena apenas aconselhara utilizá-las neste momento, ao invés da desejada matança de policiais.
Dobrou o jornal ao final da reportagem, resmungou meias palavras em espanhol e foi ao ‘lavabo’ para molhar o rosto. Levemente barbudo e muito mais careca do na época em que fora preso, Jefatura – apelido dado pelos “irmãos” do Partido e que significa “chefia”, em espanhol – voltou ao colchão de três dedos de altura, pegou o caderninho e voltou à sua obra. Há alguns meses, vinha elaborando um plano de fuga da mais segura penitenciária do Brasil. O currículo de fugas do bandido chileno, vale lembrar, inclui cenas cinematográficas.
Há dez anos, Norambuena saiu do presídio de Santiago da maneira mais engenhosa possível: voando. Seus parceiros seqüestraram um helicóptero e rapidamente pousaram no pátio da prisão. Nora rendeu os carcereiros mais próximos minutos antes da saída para o banho de sol com um pedido singelo para ir ao banheiro. Alegou estar com o nariz sangrando e rendeu os guardas que o acompanhavam até a pia mais próxima. Atravessou o presídio acompanhado de cerca de dez homens e foi resgatado em segurança pelo helicóptero, que minutos depois do sucesso da operação, fora jogado contra uma montanha nos arredores da cidade.

Presídio de Presidente Bernardes: segurança máxima a 589km a oeste de S.Paulo - DivulgaçãoEntretanto, a fuga de Presidente Bernardes parecia muito mais ambiciosa do que aquela. Passava 23 horas enclausurado e as revistas eram freqüentes e rígidas. Cavar um buraco nem pensar, sair de helicóptero pior ainda. Havia meses que vinha pensando naquilo e seus miolos eram consumidos a cada dia. As opções eram descartadas dia a dia, mas Nora era persistente e não parava de estudar o cotidiano do presídio.
Observou a troca de turno dos carcereiros. Observou, não. Ouviu, porque as reforçadas portas apresentavam apenas uma janelinha para o corredor. Anotava todas as trocas e as freqüentes substituições nos funcionários, pois achava que a opção de fuga teria de ser por ali. Para ele, se errar é humano, uma hora algum deles teria de errar. Estava no Brasil desde o ano 2000 e sabia o grande câncer brasileiro: a corrupção. “De dentro para fora e de cima para baixo”, como costumava dizer.
Como medida de segurança, os carcereiros não mantinham contato com os presos. Trocavam poucas palavras nas poucas vezes que os atendiam. Isso tudo observado por câmeras de segurança dispostas em cada canto dos corredores. Os presos, como forma de intimidar, ameaçam e xingam os funcionários aos gritos. Ali, todos sabem, estão os mais perigosos e influentes marginais do país.
E era nisso que Norambuena apostava. A pressão sobre os carcereiros faria com que algum deles facilitasse ou ao menos desse alguma informação útil para a fuga. Passado quase um mês de observação e anotação, Nora entrou em contato com o amigo Marcola para discutir os últimos passos para a ação do plano. À noite e aos gritos, perguntou ao companheiro sobre novas observações e idéias para a fuga. Não obteve resposta satisfatória e expôs ao quase vizinho sua idéia. Entraram em consenso. A data seria 21 de julho, daqui a uma semana. Antes de dormir naquela noite, Norambuena ainda lembrou-se de outro fato que já habitava a história na data apontada para a fuga: o ataque terrorista a três estações de metrô e um ônibus em Londres, na Inglaterra. Encostou a cabeça no ralo travesseiro e repetiu o ‘mantra’ até pegar no sono. “Éste es que va a ser historia, éste es que va a ser historia...

autoria: Julio Simões - data: julho/2006

Ela

Por ela, muitos passam, mas só poucos ficam. É concorrida, seja dia ou noite. Existem parecidas pelo mundo, embora esta seja de tipo raro.
Ela, especificamente, é especial. Mas tem alguma coisa ali que não tem em outro lugar, só nela.
É por isso que tantos se admiram, querem tê-la mas não podem. Ela não tem dono, é pública. Ah, és tão bela!

créditos: Julio Simões - data: 22/08/06 (14h34)

Quase

Ele chegou quando ela já estava na poltrona 15. Acomodou os pertences no bolso, enquanto ela se ajeitava para dormir. Blusa como cobertor, travesseiro inflável. Ele riu baixinho com o barulho de assopro do bico da tal almofada. Ela não viu. Até a saída do ônibus, não se falaram. Nem por sinais. No máximo, o cotovelo dele tocava o braço dela, numa disputa silenciosa pelo "braço" estreito que os separava.
Ele pegou um livro de capa azul. Ela ficou curiosa para saber o assunto do pequeno encadernado, mas não perguntou. Preferiu pegar suas folhas sobre Nazismo. Ele ficou curioso para saber o porquê do interesse no assunto, mas também não perguntou. Continuou com os olhos no Veríssimo. Um tempo depois, fez-se o contato.

- Posso? – pediu ela, apontando o corredor ao lado.
- Hã? – respondeu, desentendido.
- Posso passar? Preciso ir ao banheiro...
- Ah, claro.
Prestativo, colocou as pernas para o lado. Ela saiu, mas quase caiu sobre ele. "O bonitinho podia ter saído, né?", pensou ela, abrindo o sorriso. "Nossa, é linda", concluiu ele em silêncio, olhando direto para a boca dela.
Na volta, ela apontou a moeda de cinco centavos jogada na poltrona, certamente caída do bolso dele. Ele recolheu, agradeceu com a cabeça e passou a girar o pertence entre os dedos, enquanto ela voltava às folhas. Nenhuma palavra. Ela riu baixinho quando ele perdeu o controle do níquel e o deixou cair. Ele não viu.
Assim foi por seis horas, sem um diálogo sequer. Ele tentava "colher" o conteúdo das folhas verdes e rosas dela, enquanto pensava sobre quem poderia a companheira de poltrona. Do outro lado, ela fingia concentração na chatice do Hitler e tentava "pescar" o tema do livro azul dele.
E foi dessa forma que eles - Rodrigo e Roberta, que seriam casados, teriam dois filhos e, depois de algum esforço, uma casa em Ubatuba - deixaram de se conhecer.

autoria: Julio Simões - data: 13/10/06

Lugar-símbolo

Vista da Igreja Matriz de Promissão - em reforma - na rua Pedro de Toledo
crédito: Julio Simões - data: 13/10/2006 (13h43)


- Como é lá?
- Normal. Uma cidade normal.
- Como assim?
- Ah, tem a praça na frente da Matriz, sorveterias, farmácias... Tudo isso na rua principal, a "do comércio".
- Tem coreto na pracinha?
- Claro. Todas as praças tem coreto.
- Legal... e o movimento?
- Ah, é fraco, viu... não costuma acontecer muita coisa por lá.
- Sei. E quantos habitantes tem?
- Olha, acho que uns 40 mil só.
- (risos) Nossa, cabe tudo no Pacaembu então! (gargalhadas)
- É, cabe tudo no Pacaembu... (constrangimento)


A flor da casa da avó

Antes da chuva, depois do almoço. A florzinha estava lá, quieta, paciente, linda. Merecia um clique. Aliás, tem dias que não passam na velocidade desejada, que custam a acontecer. Esse era um. Pelo menos ainda há beleza em alguma coisa, algum lugar. E outra: não existem flores como esta na avenida Paulista.

créditos: Julio Simões - data: 12/10/06 (14:09)

O descritor e a encantadora

Descrevia as mulheres como ninguém. Desde pequeno, quando ainda tinha uns 13 ou 14 anos, já sabia extrair com um só olhar toda a essência, o humor e as características do sexo feminino.
Aos 17, resolveu ganhar dinheiro com a habilidade. Bem vestido, colocava seu chapéu no chão e, romanticamente, construía poesia sobre as mulheres que por ali passavam. Em pouco tempo, já tinha moedas, notas laranjas e bilhetes com telefones femininos.
Ficou nesta vida até os 25 anos e, por ética profissional, não se envolvia com nenhuma das “clientes”. Porém, um dia o pior aconteceu.
Aqueles cabelos longos, lisos e marrons pararam na sua frente. Com o olhar deslumbrante e gestos suaves, começou a falar. A voz, imagine você, era a coisa mais doce que já ouvira.

- Soube da sua fama e vim conferir – exclamou o monumento.
- Pois não... – respondeu ele, não completando a frase simplesmente por não ter palavras.
- Poderia escrever para mim? – retrucou ela, completando a frase com um sorriso ensolarado.
- Pois não... pois não posso fazer isso, moça – surpreendeu.
Nunca havia recusado trabalho durante todos aqueles anos. Podiam ser feias, lindas, mal cuidadas, produzidas, gostosas ou não. Não tinha preconceitos e, por ver alguma beleza em todas elas, continuava a descreve-las.

- Porque não? – disse surpresa, expressão que a deixou ainda mais bela, como se isso ainda fosse possível.
- Por que com esses olhos, essa boca, esse corpo e essa alma eu não vou conseguir parar de pensar em você. Seria meu fim – encerrou.
Depois disso, deixou a moça para trás, sozinha, e passou a tentar esquecê-la. Não dava.

autoria: Julio Simões – data: 02/09/06

(Des)encontros em acordes

Então. Apresentei este blog e estes textos a um grande amigo, o João Pedro. Diante do conto (Des)encontros, viu que poderia dar samba - não necessariamente, claro - e pediu permissão para usá-lo. Deu no que deu. Confiram.



Este trecho aí exposto é apenas um "preview", quando estiver completa prometo colocar aqui. Ah! A letra está em posts anteriores e a música, claro, é do talentosíssimo João Mello - guardem esse nome.

*Clicou no play e não tá tocando? Clique aqui, então.

Dois pés entre tiras brancas e sob um solado de mesma cor

Chinelinho branco. Embora tudo nela tenha seu valor, fora isso que lhe chamara a atenção naquela manhã ensolarada. O cabelo longo e dourado, o corpo minuciosamente delineado dentro da calça jeans e a bolsa colocada no ombro direito não tinham significado algum sem o chinelinho branco.
Quando a viu atravessar a rua calçando o tal, então, deixou de lado os carros, as pessoas e o barulho. Fora conquistado, definitivamente conquistado.


autoria: Julio Simões – data: 05/10/06

Doce intimidade

O vento batia em seus cabelos longos. Com os joelhos junto do corpo e os pés sobre a carteira, tinha o olhar atento.
De tempos em tempos, tombava a cabeça nos braços cruzados. Às vezes, delineava os fios de cabelo dispersos pelo vento.
De vez em quando, roía as unhas dos dedos mínimos da mão, tanto a esquerda quanto a direita. Seus gestos indicavam crítica, tédio e atenção com o que se passava à frente. Tudo ao mesmo tempo, agora.

autoria: Julio Simões – data: 04/10/06

Pela janela

Um dia chuvoso, como este aí do lado. Um sábado não mais que normal. Tudo bem. Nem todos os dias podem ser especiais.

Vista da al. Santos, 1018.
crédito: Julio Simões - data: 06/08/06

Instante

Dedos habilidosos e rotativos circulavam as pontas do cabelo longo. A posição cujos punhos cerrados seguravam a cabeça denunciava seu tédio.
Num certo momento, levantou a cabeça, reuniu o cabelo todo e, num lance rápido, passou o elástico roxo por ele, formando um utilitário rabo-de-cavalo.
Segundos depois, uniu os braços na estreita carteira e deitou, num misto de atenção e sono. Ao final de tudo, ergueu-se bruscamente, recolheu os papéis sobre a mesa e deixou a sala.

autoria: Julio Simões – data: agosto/06

(Des)encontros

Não acreditava no amor. Pelo menos até hoje de manhã.
Saiu de casa apressado, sem café. Arrumou a camisa, correu.
As pessoas na rua denunciavam seu atraso.
Fez parar o ônibus, àquela hora já pouco abarrotado.
Ela estava lá. Não lá, na verdade. Mas sim do lado de fora do vidro sujo do transporte público.
Feição preocupada, mas não menos maravilhosa.
Na hora, resolveu chutar o mundo para o alto. Gritou alto e se fez atendido.
Desceu do ônibus, quase caiu, mas correu ao encontro dela. Só teve tempo de ver a sandália e a saia longa a se mexer, subindo em outro ônibus.
Atordoado, olhou. Por um momento, viu ser visto. Caminhou de volta para casa, já sem esperança do encontro.
Ela, porém, do outro lado do vidro sujo do transporte público, gritou e se fez atendida.

autoria: Julio Simões – data: 25/08/06

História de Amor (?)

No quarto pequeno, ela na cama, ele no criado-mudo.
Conversavam sobre o dia, ela falante, ele entre "ah, é?" e "hums...".
Foi quando ela citou o nome de outro.
Ela continuou a gesticular, ele enrubresceu.
- Ciuminho, meu bem? - perguntou ela, insinuante.
- Não, amor. - respondeu ele, com a voz embargada.
Sacou o trinta e oito e, enquanto era abraçado, puxou o gatilho.

autoria: Julio Simões - data: 25/08/2006

Hora do rush na Paulista

Avenida Paulista em seu momento diário de caos.
crédito: Julio Simões - data: 24/08/06 (18h57)
Olha, realmente foi a coisa mais complicada que eu fiz nos últimos dias. Achar um nome para um despretensioso blog não é fácil. Tudo já existe, desde o comum ao bizarro. Levei quase duas horas, mas consegui. Tá, não é dos melhores, mas vai ser esse. E pronto!