Se durante a manhã minha visita à TV Tem de Bauru, afiliada da Rede Globo, se limitou ao estúdio, a parte da tarde foi quase toda fora. Pedi para acompanhar uma equipe de reportagem na chamada “externa”, que só pelo nome é possível deduzir o que é. Depois de um almoço leve pela região, voltei para esperar o carro e o repórter.
O aval para que pudesse acompanhar a reportagem na rua foi dada por Odair, popularmente conhecido como seu Dadá. Ele, além de motorista, era o cinegrafista na ocasião. A simpatia em pessoa, sempre preocupado com que eu pudesse acompanhar as atividades do repórter, no caso, Marco. Este, aliás, é uma promessa do telejornalismo local e vou explicar o porquê mais adiante.
Assim sendo, rumamos à Câmara Municipal de Bauru às 14 horas para acompanhar a volta dos vereadores após o recesso do final de ano – veja bem, começaram em 5 de fevereiro, 36º dia do ano. No carro com o logotipo da tevê, somente eu, seu Dadá e Marco. Do lado de fora, o calor de aproximadamente 35 graus.
Já na Câmara, decidi auxiliar os dois, que além de tudo ainda tinham que carregar o equipamento. E acreditem: não é só de câmera e microfone que se faz uma matéria. Fiquei com as fitas, umas cinco caixas plenamente identificadas. E só. Não quiseram dar ao nobre estagiário de “acompanhamento” – termo que ouvi algumas vezes ao longo do dia – mais nada. Piedade, cautela, desconfiança? Sei lá.
A questão é que lá dentro, uma sala ampla e condicionada (ufa!), era possível avistar um público assistindo a primeira sessão ordinária da Casa. Eu diria que a sessão realmente foi ordinária, de tão chata e confusa que foi. Se você já teve o desprazer de assistir ou de pelo menos passar pelo canal da TV Câmara, já tem uma idéia. Agora, imagine: ao vivo é impossível mudar de canal!
Enquanto Marco e Dadá seguiam a pauta (a tentativa da Prefeitura em reaver o aeroclube de Bauru, já que agora a cidade conta com um amplo e moderno aeroporto), eu seguia Marco e Dadá. Fui aos confins da Câmara para ver – e gravar - um mapa da região em litígio. Explicação para cá, explicação para lá, e como sempre quase nada esclarecido.
Momentos depois, porém, ainda viria o pior. A tal sessão ordinária. Meu Deus, nunca tomei tanta água nem café quanto aquele dia. E pior: nunca fui tão cumprimentado. Desde que percebi que os políticos vinham até mim na expectativa de estar agradando um eleitor bauruense, passei a contá-los.
Foram no mínimo oito, num lugar em que existiam 15 representantes da população (mais três da presidência e afins, estes “estrelas” demais para sair da tribuna). A sessão citada, porém, é um caso a parte. Um circo, praticamente. Um show, talvez, já que era televisionado para toda Bauru pela televisão própria.
A cara dos vereadores era o melhor. Todos, absolutamente todos, tinham cara de político. Se eu visse um deles na rua, seria capaz de apontar e dizer que “só pode ser político”, tamanha a alegoria. Enfim, o “circo” da Câmara estava armado e a movimentação era típica de feira aos domingos ou de uma sala de aula de sétima série.
Todos fora dos lugares, em pé, conversando paralelamente enquanto o presidente da Casa ou qualquer outro colega de profissão discursava na tribuna. A organização, sim, era o forte do lugar. Tanto que a ordem do dia tinha previsto a escolha dos representantes para as comissões internas, que decidiram assuntos específicos e relacionados ao município.
Até aí tudo bem, se os caras não se atrapalhassem até quando a coisa já havia sido acertada informalmente. O maior exemplo foi quando o presidente da Câmara anunciou um vereador em uma comissão e não era o combinado. Isso porque para chegar a essa confirmação eles tinham que ir até um microfoninho no meio e indicar quem do partido iria assumir a função, seguido da confirmação do próprio escolhido.
Escancarado o erro, eis que o presidente resolve interromper por tempo indeterminado a sessão e convocar todos os “coleguinhas” para voltar à sala fechada e redefinir toda a divisão. E se não bastasse tudo isso, tinham que ser anunciadas 11 (!!!) comissões naquele dia. Foi nesse meio tempo, porém, que pude conversar mais com Marco Paiva, o tal repórter promissor citado anteriormente.
Digo isso porque ele realmente aparenta ser bom. Não tem medo de falar com os políticos (até porque pouco cobre política e não está nem aí para as críticas que recebe) e se mostra bastante eficiente na profissão. Além disso, faz uma das coisas que sempre quis fazer no jornalismo: reportagens interativas, bizarras, nonsenses, chamem como quiser. O que vale dizer mesmo é que o ícone maior deste gênero ainda pouco explorado no Brasil é Márcio Canuto.
A conversa sobre isso, aliás, se iniciou com uma intervenção de uma telespectadora, presente na platéia da Câmara. A senhora se levantou ao ver o repórter, foi até ele cumprimenta-lo pela reportagem “do dia 25”, como ela mesmo disse. Pegou nas mãos dele, que se mostrou atencioso, e conversou por alguns minutos, sempre elogiando seu trabalho. Praticamente uma celebridade.
A tal reportagem do dia 25 era a especial de Natal. Na época, Marco já havia iniciado essa prática de reportagens leves, bem humoradas e junto ao povo. E aquela consistia em realizar um curso de Papai Noel, ministrado em Jaú (SP), para depois exercer a função num shopping da cidade. E assim, passado o curso (devidamente registrado pelas câmeras da TV Tem), o articulado repórter partiu para a missão junto às crianças. Tudo isso ao vivo no jornal do meio-dia.
Além desta matéria de sucesso, Marco ainda citou que saltou de pára-quedas ao vivo no aniversário de Bauru e ainda participou de um baile da terceira idade. “Dancei com as velhinhas lá, foi demais”, contou rindo, enquanto aguardávamos a volta do recesso. A mudança de comportamento dele diante da lente foi explicada na seqüência.
“A emissora fez uma pesquisa há um tempo e constatou que os repórteres e apresentadores eram “engessados” demais. Nisso, fui tentando mudar um pouco o esquema das reportagens. No começo gaguejava e errava tudo, mas era elogiado. Recebíamos muitos e-mails positivos. Mas foi com a saída do chefe para férias que “chutei o balde”. Quando ele voltou, não me segurou mais”, explicou o repórter, que revelou ter sido inclusive elogiado por J. Havilla, dono da TV Tem.
No retorno do recesso, não muito tempo depois, tudo transcorreu normalmente. As comissões foram corretamente anunciadas, Marco gravou com gente da oposição e da situação e eu não via a hora de sair de lá. Estava interessante acompanhar a reportagem, o que não agüentava era o clima político.
Assim, depois de quase cinco horas lá, deixamos correndo o lugar. Não por ser insuportável, mas por estar próximo do segundo jornal. Já na redação, Marco voou para escrever e gravar o off antes das 19 horas, hora do segundo TemNotícias. E novamente a redação fervia. Corre-corre, ilhas cheias, apresentador se arrumando. E novamente, na hora marcada, o jornal estava lá. Como na tevê. Eu também, desta vez vendo tudo do estúdio.
Enfim, embora os “acontecimentos tenham sido registrados entre nove e dezenove horas”, foi possível ter noção de como funciona uma tevê, pelo menos a sua parte jornalística. Também foi interessante ver como nem todos que trabalham nesse meio são arrogantes quanto possam parecer. Comigo, ao menos, todos foram solícitos. E cada vez mais sigo com a vontade de experimentar coisas diferentes no jornalismo. A tevê, inclusive, está cada vez mais nos planos.