Eu vi a morte. Escrevo essas linhas tortas e imprecisas porque tenho certeza disso. E digo mais: sei que ela está vindo me buscar. É fato. Eis então o motivo desta carta-desabafo. Antes de mais nada, porém, relatarei como começou meu provável último dia de vida.
Desci as escadas correndo. Parecia um dia normal, é verdade, pois havia sol, nuvens e muitas pessoas. Era meio-dia quando alcancei a rua e virei a esquina. Em minutos, recebi a encomenda, paguei e dei a volta, já entorpecido pelo cheiro. Era a morte chegando, claro.
Tanto era que agora estou aqui, branco, deitado numa cama de hospital. Sinto o soro pesar no meu braço enquanto vejo as enfermeiras com o semblante preocupado. "Não devo escapar", falo comigo mesmo, em tom de derrotado. Afinal, quem iria imaginar que a temida morte poderia estar travestida daquele jeito?
E como imaginar que o fim poderia estar em um macarrão amarelo conservado de forma duvidosa em recipientes impróprios para a Vigilância Sanitária, com pedacinhos de frango e carne de terceira, legumes mal-cortados e molho de soja salgado ao extremo? Quem poderia saber, meu Deus, que a morte seria um inocente yakissoba?
Por Julio Simões, em 21 de maio de 2007.
A morte tem gosto de soja
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3 comentários:
Rapaz, você já pensou em transformar o "Despojo" em livro? É um texto melhor que o outro, porra!
Abraço
Bah, esqueci o meu linque. Sempre faço isso e nunca aprendo, hehehe.
Alguma vez já falei que eu acho q você escreve mto bem??
É praticamente um cara ambidestro!!!rs
Ah!! Estou esperando vc postar o sem título por aqui...
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