Se esta rua fosse nossa

Era uma vez uma rua no meio de um bairro bem arborizado e pouco movimentado, em que havia praticamente só estabelecimentos residenciais, casas, no mais. Duas casas dessa rua estavam em reforma, mas já tinham sido tão destruídas, que estavam praticamente em construção.

Uma bela menina loira de olhos azuis sempre passava por aquela rua – pertencia ao seu trajeto de volta para casa – e ficava de olho na construção das casas, tanto para prestar atenção nas novas casas que se erguiam, quanto para reparar nas atuações dos homens nas ruas, naquelas ruas tão pouco movimentadas e ainda menos habitadas de gente. Sempre fitava aqueles homens, mas com uma pontinha de medo de olha-los, afinal, eram homens de obras, prontos a mandar assobios para qualquer garotinha inocente que passasse por lá. Era o que acontecia: a menina olhava com o canto do olho, para não chamar atenção deles, fingindo prestar atenção apenas nas construções. Ainda assim recebia os assobios, mas tentava ignora-los para que pudesse continuar passando por lá sem maiores problemas.

Um dia, a menina passou e viu esses mesmos homens sentados no chão da rua, na calçada. Ficou admirada: mal via as pessoas pararem naquelas ruas, quanto mais sentar-se nas calçadas! E pensou o quanto gostaria de faze-lo também, mas claro, com outras companhias. Como estar no lugar deles não era possível no momento, ela apenas fitou-os com aquele mesmo canto de olho de antes, como se para matar a vontade que tinha de estar lá, apenas sentada na calçada observando o movimento das ruas, das pessoas, dos pássaros. Teve vontade de fotografá-los. Não exatamente fotografar os homens, mas a situação em que eles se encontravam: inocentemente sentados na calçada, comendo e conversando, descansando do árduo trabalho de construção das casas. Mas logo sentiu que, sem querer, chamava a atenção deles, e que seria um tanto estranho fotografá-los, eles nada entenderiam.

Então ficou a fitá-los por longos cinco segundos, já imaginando o que se passaria na mente daqueles homens, estranhando os longos olhares da menina a pessoas tão simples como eles. E, na frustração de não poder estar lá sentada entre eles, nem mesmo de poder registrar na máquina aquele momento, a menina se pôs a caminhar, de volta ao seu trajeto de casa.

Por Josie Berezin, em 2 de maio de 2007.

3 comentários:

Anônimo disse...

à espera da entrevista do aniversariante...

beijos!

Julio Simões disse...

Eu precisava de um bom motivo para postar aqui, mesmo você me dizendo que eu não precisava fazer isso, que já tinha dito tudo, que ficaria falso, etc.

Assim, escolhi comentar sua participação especial no meu blog 15 dias depois de ter colocado o texto no ar! Parabéns! Viva!

Bom, tirando essa palhaçada atípica, queria agradecer a excelente participação que você teve nesse modesto espaço. Que isso gere um novo blog, desta vez próprio, para que novos textos da minha consultora literária particular ganhem o mundo.

É isso. Beijos.

Ps. Eu nem sei quando vc vai ler isso (e nem se vai, na verdade), mas tá valendo.

Anônimo disse...

"(...) e a menina jurou que se tivesse, só mais uma, uminha oportunidade como aquela, se tudo se repetisse num dia seguinte ela....
O que ela faria? Talvez se sentasse recostada no ombro do homem de meia idade, na verdade quase terceira, que estava ali, e veria com a proximidade dos seus olhos os que até então só os dele via."