Highlights 2007

Faz um ano, mas parece que foi ontem. Com essa frase clichê, começo o Highlights 2008, a segunda edição do prêmio estilo "melhores do ano" que o Despojo apresenta a seus leitores no último dia do ano. Na última vez, apresentei a premiação com pompa, expliquei direitinho do que se tratava, fiz graça com tapetes vermelhos, flashes e outras coisas mais. Desta vez, porém, serei mais direto e encurtarei a enrolação a apenas três parágrafos.

Antes de apresentar os premiados, é preciso dizer que um ano é tempo suficiente para se mudar muita coisa. O gosto pessoal, as amizades (pode-se aprofundá-las ou afastá-las), o emprego, as roupas, a moda, a aparência, o estilo de escrever, enfim, a vida toda. Pois é. Eu mudei, você mudou, todos mudamos.

E o prêmio também não poderia ser diferente. Poucas categorias tiveram bicampeões (av. Paulista, Linense e Atlético-PR, por exemplo, repetiram a dose - para o bem ou para o mal), o que prova o dinamismo da competição. A maioria é cara nova, e se você comparar, pode perceber que mudei bastante. E para melhor, acho.

Música :
- banda: Foo Fighters, com menção honrosa para Los Hermanos (minha última homenagem a eles. juro que ano que vem eles não aparecem aqui)
- álbum: Fashion Nugget, do Cake (muito por culpa da minha fase cakística, mas também pela sonoridade límpida e empolgante das músicas)
- show: Diana Krall, no Parque Villa-Lobos (o lugar é o paraíso dentro de São Paulo e ela, ah!, ela é tão linda!)
- surpresa: Cake (eu sei que não são novos, mas conheci recentemente e não paro de ouvir)
- decepção: a parada por "tempo indeterminado" do Los Hermanos (porque é triste saber que eles podem nunca mais voltar)
- revelação: Céu (a dona da voz mais doce da MPB atualmente).

Filme :
- o melhor: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho (vi recentemente, mas é realmente fantástica a união entre ficção e realidade), com menção honrosa para Medos Privados em Lugares Públicos, de Alan Resnais.
- o pior: talvez seja o aclamado O Grande Chefe, que se mostrou lento e pouco eficaz.
- menção honrosa: Bee Movie e os destaques da Mostra (o uruguaio O Banheiro do Papa, o francês La Crème e o nacional Estômago)
- melhor atriz: Tainá Müller como Marcela, em Cão sem Dono.
- melhor ator: Jerry Seinfield como a abelha Barry B. Benson, em Bee Movie; e César Trancoso como Beto, em O Banheiro do Papa.

Livro :
- o instigante: O Passado, de Alan Pauls.
- o sonífero: Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.
- o desejado: Na Multidão, o novo do Luiz Alfredo Garcia-Roza (sempre ele!).

Lugar :
- restaurante: Subito, comida italiana (na Brigadeiro Luiz Antônio, na Paulista e em tantos outros lugares, vale conferir a mistura entre carne e massa)
- rua: av. São João (por onde o TCC vai me fazer passear tantas vezes em 2008, com muito prazer), com menção honrosa para av. Paulista (sempre monumental, quase hour-concours)
- barzinho: Finnegans (pub irlandês + música + amigos = boa pedida)
- passeio: minha primeira viagem internacional, para a Argentina, com menção honrosa para a bela Rua Javari (vi o Juventus lá por duas vezes em 2007 e espero ir em tantas outras no futuro)

Futebol (porque esporte é muito abrangente):
- melhores momentos: Corinthians e a queda ao submundo da Série B; menção honrosa para o Linense, depois da A-3 em 2006, o vice na Copa FPF em 2007.
- piores momentos: Atlético-PR, que perdeu Paranaense, Copa do Brasil, Copa Sul-americana e Brasileiro. Dois anos seguidos sem nada para se orgulhar não dá, né?
- golaço: Marta, no Mundial feminino disputado na China, contra as poderosas norte-americanas.
- bola fora: Lula no Pan do Brasil. Não requer mais explicações.
- assunto mais chato da crônica esportiva: As contratações do Fluminense para a Libertadores.

Reportagens pessoais:
- a melhor: cobertura da final da Copa FPF, entre Linense e Juventus, na Rua Javari. (teve grito de campeão para o time de Lins na arquibancada, invasão do gramado para entrevistas e até foto vendida para a Gazeta)
- a pior: cobertura do Boca Juniors para o jogo contra o São Paulo na Copa Sul-americana. (nenhuma palavra dos simpáticos argentinos no aeroporto e no vestiário)
- a mais trabalhosa: cobertura do clássico entre Santos e Corinthians e a "final" entre São Paulo e o rebaixado América de Natal, ambos pelo Campeonato Brasileiro.
- a mais engraçada: entrevista com o ídolo e goleiro Sérvulo, do famigerado América de Natal, na "final" contra o São Paulo.
- a que não fiz: sobre o Eco-estádio Janguito Malucelli, em Curitiba (não havia ninguém para eu entrevistar sobre a inovadora casa do J. Malucelli, afinal estamos no dia 31 de dezembro...)

Enfim. Acho que as categorias tem se consolidado cada vez mais, cumprindo a missão de englobarem grande parte do que eu fiz no ano. É claro que novos itens devem entrar com o tempo, afinal tudo é dinâmico. E tomara também que eu tenha outros anos de blog para poder reeditar essa premiação, tão gloriosa quanto trabalhosa.

De resto, falta desejar ao intrépido leitor e à simpática leitora um feliz ano novo, com amor, saúde e felicidade - que é, convenhamos, resultado dos outros dois. Se 2008 repetir 2007, para mim já vai estar bom demais. Até lá, então!

O menino e o cão

Alto aqui do sétimo andar
longe, eu via você

e a luz desperdiçada de manhã

no copo de café

Do sétimo andar - Los Hermanos


Era o pior Natal de todos os tempos. Colocou a camisa social azul-marinho que ganhara para a ocasião e, finalizando o vestuário, tentou sorrir para o espelho. Não deu. O sorriso saiu assim, meio torto, sem sal. Tudo bem. André não tinha mesmo o que comemorar. A mãe, do lado de fora, já falava alto alguma coisa sobre o horário. Abriu a porta e disfarçou a vontade de chorar. Não queria preocupá-la.

Na sala pequena e confortável, a família estava toda reunida. O pai, alto, moreno e levemente barrigudo, tentava abrir a garrafa de vinho, sob a expectativa dos tios e dos avós. Todos riam e brincavam com a inabilidade do anfitrião, mas André ouvia tudo abafado. Estava ali, mas não estava. A mãe, depois de conferir orgulhosa o figurino do filho único, correu para a cozinha verificar se o pino do peru já havia desgrudado da carne, oficializando o início da ceia. Lá, as tias todas já paparicavam alguma coisa sobre a novela das oito.

Num dos cantos, havia uma árvore. Tradição da família desde sempre, lá estava ela: alta, próxima de alcançar o teto da sala de estar, com bolas vermelhas, cinzas e brancas, rodeada de fios reluzentes. André, parado no canto oposto, admirava a árvore preparada por si mesmo e pela mãe como se não fosse dono. O apartamento todo, aliás, não parecia ser seu lar. Para ele, faltava algo. E ele sabia o que era, embora tentasse esquecer.

Tudo aconteceu em um sábado de sol agradável, daquele que não machuca e que inspira caminhadas em parques. Foi nesse dia que, com a permissão da mãe, decidiu descer os sete andares para passear com Bilu, um poodle toy frágil, com a cara de quem precisa ser cuidado todas as horas do dia, com o perigo de perder-se no mundo. O cãozinho era mesmo frágil, tinha alguns problemas de nascença. Mas fora o melhor presente que André ganhara na vida.

Naquela tarde até então agradável, André calçou a sandália, pôs o short e, mesmo contra a vontade, aceitou a sugestão da mãe em colocar uma regata. Feliz com a aventura que estaria por vir, o pequeno desceu pela escada acompanhado pelo saltitante companheiro. Uma vez na rua, deixou a coleira de lado e permitiu que Bilu tomasse um ar. Foi o erro. O cão correu para a esquina, talvez atrás de um poste. De repente, sem que André pudesse pensar, um carro escuro parou, um moleque cabeludo - filho da puta! - desceu e, sem olhar para os lados, pegou Bilu com uma mão, entrou no carro e saiu em disparada.

Inconsolável, André pensou em pedir ajuda a quem passava, mas não havia ninguém na rua. O porteiro, pouco solicito, deu de ombros. No máximo, interfonou para a mãe do menino para comunicar o ocorrido. Passaram-se quase seis meses e, desde então, André vive um pouco mais triste. O sentimento de perda, para ele, parecia irremediável. Os pais fizeram de tudo, mas o órfão do cão não tinha vontade de sair do quarto. Há pouco tempo atrás é que voltou, ainda meio ressabiado, ao cotidiano normal.

E aquele Natal não teria graça nenhuma sem Bilu. A história do desaparecimento do cão de estimação não lhe saía da cabeça desde aquele sábado ensolarado. Antes de dormir, repetia sem querer a cena, enchia os olhinhos de lágrimas e dormia. Nem os avisos para a vizinhança, nem os cartazes feitos a mãe espalhados pela redondeza trouxeram de volta Bilu.

Agora estava ali, encostado na parede, vendo a família comemorar o Natal. Os minutos em que ficara paralisado, repassando pela milésima vez o episódio, chamaram a atenção da tia, que o colocou em algum assunto falado no sofá. André sorriu, conseguiu comentar algo coerente e saiu à francesa para a cozinha. Não tinha fome, e então voltou à sala, onde encontrou no tapete macio um bom lugar para deitar. Na tevê, algum especial de fim de ano que odiava, mas pelo menos o tirava daquele Natal sofrível.

Os olhos pesaram e ele quase caiu no sono. Um barulho de campanhia e um chamado do tio o chamaram a atenção. "André, venha cá!", ordenou a voz, que demorou a identificar. "Seu pai chegou e está te chamando aqui", completou. O menino levantou levemente cambaleante, esfregou os olhos com as mãos e não viu aquilo. Nas mãos do pai estava ele, Bilu. Sorridente como sempre, impaciente como sempre. André tentou correr, mas as pernas lhe traíam. Tanto que houve tempo para o pai caminhar da porta para o centro da casa, onde ele já era o centro das atenções.

"Filho, é teu", disse o pai, evitando maiores discursos por saber que não conteria as lágrimas. As tias, que naquele momento haviam largado a fofoca na cozinha para acompanhar o evento, também tinham os olhos marejados. Os avós tinham no rosto um ar contemplativo, aquele que só os avós sabem fazer com maetria, aquele em que entorta-se o rosto como quem diz "como é boa essa tal de felicidade". A mãe, ainda com o avental e com o pano de prato nas mãos, não teve ação para nada. Chorou copiosamente.

André, que não viu a reação de nenhum dos presentes ali, mantinha os olhos fixos no olhar do cão. Ele estava de volta. Ele, branco, pequeno, sorridente. Ele, Bilu. Quando o pai passou o filhote para o filho, André o tomou nos braços e, bem baixinho, só conseguiu dizer: "Eu sabia que você voltaria, Bilu, eu sabia". E em seguida comprimiu os braços que já envolviam o cãozinho, quase sufocando-o com a injeção de carinho e felicidade que o tomava. Era o melhor Natal de todos os tempos.

Por Julio Simões, em 25 de dezembro de 2007.

Humano

Saí do cinema pensando em frases para resumir o que seria Jogo de Cena, nova obra de Eduardo Coutinho. Não deu. No final, deixo uma outra frase pensada - e falada - bem mais tarde, quando já tinha, talvez, uma opinião mais formada sobre o filme. E digo: não deixe de ver.

"Mesmo se não tivesse feito outros filmes (Cabra marcado para morrer, Santo Forte, Babilônia 2000, Edifício Master, Peões e O Fim e o Princípio), os quais eu não vi, Eduardo Coutinho já poderia ser, só por Jogo de Cena, considerado um gênio"

Chefito

Era um sábado qualquer. Qualquer não, porque eu trabalhava, mas enfim. Eu não ia sair de casa e não queria ficar vegetando no sofá. Durante a tarde, então, em meio à notas futebolísticas, decidi que ia fazer uma coisa que eu sempre penso, mas que a preguiça me barra: cozinhar. Isso, fazer alguma coisa para comer sem usar microondas ou telefone.

Nas pesquisas preliminares, descobri que existem blogs voltados para isso, para pessoas do sexo masculino com pouca ou nenhuma habilidade e/ou saco para cozinhar a própria comida. Existe o Culinária Masculina e o Homem na Cozinha, por exemplo, que pelo nome já dizem para quê foram criados. Enfim, recorri a eles e fechei meu cardápio para aquela noite: strogonoff rápido.

Deixei a redação tarde, lá pelas 21 horas, e rumei determinado para o Extra mais próximo. Porque acredite, meu caro, é preciso determinação para não desistir nessa hora. Lá, enchi o carrinho com carne picada para strogonoff, molho de tomate, creme de leite, cebola, batata palha apimentada. Chegando em casa, meu ânimo ainda era surpreendentemente grande.

Descasquei cebola como um operário-modelo de porão de navio. Deixei tudo meio à mão para a hora decisiva - de jogar tudo na panela - como se fosse uma experiente merendeira de escola pública. Coloquei tudo na hora certa com a precisão de um relojoeiro suíço. No final, minha primeira aventura gastronômica estava concluída. Lá estava o strogonoff, quase como o da minha mãe - nunca, mas nunca, vai ser igual.

E acredite, meu caro: é legal. Se não bastasse a diversão de ficar analisando se as coisas dão certa quando colocadas na panela e o orgulho de provar - e aprovar - o prato pronto, ainda há o diferencial. Experimente, caro amigo, contar para um exemplar do sexo feminino que você gosta (ou ao menos tem interesse) de cozinhar. Experimente, então, dizer o que você fez. É fantástico, eu juro. Melhor que isso, só fazer ao lado dela.

Hardcore junk food! - Não vou ficar descrevendo todas as minhas aventuras culinárias por aqui, até porque senão ficar um saco esse blog. Mas a questão é que, semanas depois do strogonoff, decidi repetir a aventura na cozinha, desta vez com receita própria. Eis então que criei um superhamburguer, que no final das contas não consegui dar um nome decente. É realmente para os fortes.

Primeiro, comprei hamburgueres de 120g, ou seja, maiores que o pão redondo e com gergelim que comportaria a bagaça. Depois, ainda acrescentei queijo (duas fatias), tomate (uma rodela), a lot of cebola em rodelas fritas e o maravilhoso bacon que, veja você!, existe em rodelas também. Perfeito! Vale tentar construir (é uma verdadeira obra de engenharia, vai por mim) em casa. Só não me venha com esse papinho de colesterol, que eu não tenho nada a ver com isso!

Assim

A falta que me faz o tempo não pode ser medida em números.
Quero perder tempo, sim!
Perder num gramado verde, vendo a grama crescer semanalmente.
Perder num sorriso lindo e singelo, vendo cada músculo se alinhar ao redor da boca para compor a felicidade.
Perder no céu estrelado, vendo cada pontinho piscar, acender e apagar, nascer e morrer.
Perder numa xícara de café bem quente, vendo a fumaça ganhar contorno, criando figuras reais ou imaginárias.
Perder imerso no perfume suave e doce, sentindo cada pedacinho seu seguir do pescoço até as narinas.
Perder entre as palavras mal escritas em papel amarelado, vendo como cada letra, quando junta da outra, traz à tona um universo de sensações indescritíveis até pelos melhores adjetivos do mundo.
Quero perder tempo, sim! Assim.

Por Julio Simões, de uma Starbucks, em 10 de dezembro de 2007.

Arte-futebol

Era um domingo diferente. Há alguns dias eu esperava por aquela hora, mais precisamente a 10ª hora daquele 25 de novembro de 2007, quando eu estaria diante do estádio Rodolfo Crespi, na tradicional Rua Javari, dentro do acolhedor bairro da Mooca, tudo isso na zona leste de São Paulo.

Apesar da tranquilidade típica de um dia de descanso, havia algo de diferente nas ruas daquele bairro, cuja paisagem é composta principalmente por galpões, casas antigas e restaurantes italianos. O que havia ali era, na verdade, a sensação de que uma parte da história novamente poderia ser escrita.

Digo novamente porque o estádio já acolheu um feito histórico. Em 2 de agosto de 1959, Pelé fez aquele que considera o gol mais bonito da carreira, que, embora não tenha sido registrado em imagens, foi reconstituído graficamente para o filme Pelé Eterno e lhe rendeu um busto no interior do estádio.

E aquele 25 de novembro em que estávamos também podia abocanhar um pedacinho da história do futebol. Afinal, ali se definiria o campeão da Copa FPF, torneio que garante ao vencedor uma vaga na Copa do Brasil e ao segundo colocado o "consolo" de jogar a Série C do Campeonato Brasileiro.

Para isso, estavam frente a frente dois times pelos quais tenho considerável afeição. De um lado, o anfitrião Juventus, clube grená dos mais simpáticos e tradicionais do futebol brasileiro que adotei como time paulistano. Do outro, o visitante Linense, time da cidade de Lins, que devido a proximidade com a terra natal Promissão passei a torcer.

Matar ou morrer - Faltavam aproximadamente dez minutos para o árbitro dar o sinal e autorizar a peleja, mas os arredores do acanhado estádio ainda ferviam. Entre as bandeiras juventinas e as faixas de campeão vendidas antecipadamente, era possível ver até algumas (isso, plural) redes de televisão registrando a final.

Nas arquibancadas, todos os quase 4 mil torcedores (segundo dados oficiais) procuravam a melhor vista para acompanhar a batalha da camisa grená com a branca de detalhes vermelhos. Ao Juventus, além da torcida majoritariamente ao seu lado, havia a vantagem do empate, uma vez que conseguira a vitória por 2 a 1 na ida, em Lins.

Em campo, os times personificaram o espírito da final e não se entregaram. Para exemplificar o jogo, cabe acelerar o relato para o segundo tempo, quando os times já empatavam em 1 a 1, após o Juventus ter saído na frente, mas sofrido o empate ainda antes do intervalo.

Precisando vencer, o Linense não recuou. Ao contrário, buscou o ataque durante toda a etapa final e marcou o segundo gol aos 38 minutos. O tento renovou o ânimo dos visitantes, que apoiados por quase 500 torcedores barulhentos e fanáticos, conseguiram aumentar para 3 a 1 já nos acréscimos, aos 47.

Esse gol, caro leitor e simpática leitora, era a história. Sim, um time que havia perdido o primeiro jogo em casa e estava perdendo por grande parte do primeiro tempo, conseguiu virar o placar e ainda construir a vantagem necessária para deixar o estádio em silêncio, pasmo com o que estava se passando ali.

Porém, algum sábio já disse que o jogo só acaba quando termina. E aos 49 minutos, quatro além do tempo regulamentar, a bola foi tocada com cuidado pelo Juventus até a entrada da área, onde João Paulo, provavelmente temendo ouvir o apito que decretaria o fim do sonho da conquista, chutou forte para o gol de Gilberto.

O goleiro do Linense, provavelmente com a adrenalina nas alturas, mirou a pelota para completar a defesa, repor a bola e esperar o sopro final. Porém (e sempre há um porém, em tudo na vida), entre os 500 homens que pareciam se amontoar dentro da área, havia uma perna. Uma perna não identificada, que tirou a bola da rota e a colocou nas redes.

De um lado, o sorriso largo da conquista, tão sincero quanto aquele que surge no canto da boca após um desejado beijo ou quando um dinheiro é achado num obscuro bolso de uma calça qualquer. Do outro, a decepção da derrota, tal qual o sentido ao final de grandes batalhas ou de uma prova difícil.

Não é possível saber, no entanto, se aquela manhã na Rua Javari foi realmente histórica. Talvez alguns se lembrem da fatídica partida daqui a alguns anos com orgulho, talvez o jogo caia no esquecimento e vire arquivo na história do esporte bretão. Não sei. Porém, é certo que para os quase 4 mil presentes ali, aquela manhã na Mooca não foi mais uma. Foi, até certo ponto, histórica para cada um.

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