Falso filme

Antes de mais nada, caro leitor, faça comigo um esforço de imaginação. Faz de conta que você é um diretor famoso, tem nome e história no cinema nacional, vem daquele tempo em que as produções eram realmente toscas e, de um tempo para cá, passou a fazer filmes carregado de significado e cultuados por poucos. Um certo dia, pode-se dizer, você tem a idéia de fazer um filme tosco, ao molde das comédias antigas italianas e com pitadas das velhas (porno)chanchadas - que você, caro diretor, tanto conhece. Pois bem. Aí, para fazer um filme B que se preze, você decide convocar um elenco totalmente B.

E não precisa ser criativo. Junte um cantor romântico em baixa (Mauricio Mattar), uma ex-reboladora de programa de auditório (Suzana "Tiazinha" Alves), uma personagem bonachona de programa de fofocas (Mamma Bruschetta a.k.a Luiz Henrique Pinto), um transformista e projeto de político (Léo Áquila), um galãzinho de novela das sete (Cauã Reymond) e ainda, como protagonista, a filha do reitor de uma universidade pública do DF acusado de abusos com dinheiro público (Rosane Mulholland). Ah, chame também alguém do perfil para a trilha sonora - no caso Paulo Ricardo, aquele do olhar 43.

Pronto. Com tanto talento reunido, mãos à obra. Capriche bem nas cenas, tornando-as longas e repetitivas, mas não esqueça do humor - brega, preferencialmente - para deixar o filme suportável. Invista também em sexo, afinal estamos falando de um filme nacional. Coloque gente pelada, de preferência nas mesmas cenas engraçadinhas e toscas. E a história do filme? Pra quê, meu Deus! Tudo isso já não estã bom? E outra: depois de tanta cena musical sem-noção você vai ver que filme já vai parecer ter quatro horas, e aí já seria tarde demais pra pensar em trama.

Enfim. Exageiro e preconceito meu à parte, o novo filme de Carlos Reichenbach, Falsa Loura, é basicamente isso. Você demora para entender porque as coisas acontecem no filme, se cansa com as longuíssimas cenas musicais pouco úteis que são recheadas pelo melhor da inédita música brega e ainda sai do cinema com a sensação de que a intenção era zombar com a sua cara e/ou tentar criar um movimento neo-boca do lixo. Porém (porque tudo na vida tem um porém), o filme tem uma qualidade: o elenco. Afinal, como não rir cada vez que um dos atores destacados acima entra em cena? Só isso já vale o ingresso.

4 comentários:

Ane Talita disse...

O bom é que vc me animou pra ver esse filme! ahuahuahuahuha

beijo!

Milly disse...

(ei, pare de confundir chanchada com pornochanchada! grr. a chanchada é um gênero fantástico e muito digno, ok? :P )

nossa, eu ri demais vendo Falsa Loura. Tinha hora que eu conseguia arrumar coragem pra olhar pra tela e ao mesmo tempo eu queria ver mais, e rir mais... maurício mattar de tiozão galã é fabuloso! haha!
no fuuundo vc deve ter gostado, vai. nunca acho justo eu dizer que não gostei de um filme pq, sei lá, nenhuma experiência é em vão.. um filme sempre traz alguma coisa pra vc, mesmo que seja "como não fazer cinema" e isso já vale o ingresso, pelo menos pra mim.
essa boca do lixo revival me rendeu 101 minutos de pura vergonha alheia.... e, viu... eu particularmente adorei mergulhar naquela cafonice toda.

:*

Anônimo disse...

Maurício Mattar e Mamma Bruschetta é sacanagem... Como pode, né?

Jo disse...

Bela e ácida crítica. Assistiria o filme só pra confirmar cada palavra tua.



Acho que não, me irrita profundamente o fato de pensar que estou sendo zombada por um filme dessa natureza, chego a pensar em um afronto a nossa inteligência. Se é para ser assim, fico em casa e ligo a TV.