Tempero

Eu tive medo quando fui andar de cavalo pela primeira vez, e tremi muito quando ele inventou de dar uns trotes. O mesmo medo de quando eu vou, nem que seja para acompanhar, a um parque de diversões.

Eu tive medo em mudar de escola pela primeira vez, da mesma forma quando encarei meu primeiro dia na faculdade. Certamente o mesmo medo que tive quando sai de casa para fazer cursinho em outra cidade.

Eu tive medo quando precisei bater um pênalti decisivo na final de um torneio de futsal, exatamente o mesmo sentimento frio que me corrompeu por dentro cada vez que eu precisei encarar uma piscina para competir.

Eu tive medo quando avistei um cachorro e conclui que ele iria correr atrás de mim. Esse medo ainda reaparece toda vez que um cão, mesmo que apontado pelo dono como bonzinho, resolve vir me conhecer.

Eu tive medo quando fui escolhido para ser orador da minha turma do prézinho. Apesar de bem alfabetizado na época, o calafrio de falar em público e em um microfone é o mesmo de uma entrevista de emprego.

Eu tive medo de pedir demissão do meu primeiro emprego, mesmo após três meses longos e desgastantes. A mesma coisa aconteceu esta semana, quando precisei comunicar minha saída ao chefe.

Estas são apenas algumas das inúmeras situações que me dão medo - as que eu me lembrei. Não foram as primeiras, nem as últimas. Todas elas, mínimas ou máximas, tem origem na mudança, o verdadeiro motivo da aflição.

Hoje, 7 de maio de 2008, completo 22 anos de vida. Toda vez em que mais um ano termina para mim, eu tento olhar para trás e ver o que eu fiz, o que eu faço, o que farei. Pouca coisa muda, mas eu sempre me satisfaço.

Eu tenho medo de mudança. Fato. Só que desta vez, mais do que nunca, o dia em que completo meu 22º ano de vida, cai exatamente no meio de um período em que eu tenho tomado decisões e definido rumos para o futuro.

Vou deixar meu emprego de quase dois anos e meio. Vou trocar de área no jornalismo. Vou mudar minha rotina. Vou mudar boa parte das pessoas com quem eu convivo diariamente. Vou encarar sozinho a construção de um livro.

Eu tenho medo. O mesmo de quando andei a cavalo, fui a um parque, estreei na escola e na faculdade, saí de casa, bati um pênalti, nadei, corri de um cão, fui orador e avaliado para um emprego, pedi demissão. Talvez seja essa a graça da vida.

5 comentários:

Thá disse...

Júlio,

se não sentisse medo, aí sim você deveria ficar preocupado. Por mais que os anos passem, que fiquemos mais "maduros", não deixamos de sentir arrepios de tensão quando estamos diante do novo. Mas o bom disso tudo é que, no fim das contas, as coisas se encaixam...

... boa sorte na nova fase, boa sorte com o livro e bom dia de aniversariante!

=)

Sarah disse...

Feliz aniversário!

E bem-vindo à nova fase da sua vida!

Eu gosto de mudanças. Mudanças são boas, a não ser que sejam ruins. Pense nisso.

Anônimo disse...

Mudar é viver, cara. Boa sorte por aí, sempre!

E parabéns pelo aniversário, é claro!

Milly disse...

Parabéeeenhenhenhenhens!!!!!
Bem-vindo ao clubinho dos dois patinhos :)

:*

Mariah disse...

morro de medo de ir a lugares que nunca fui...de me perder (o que normalmente acontece). morro de medo de encarar situações dudidosas e de confronto. morro de medo de discutir com meu pai (até hoje choro quando isso acontece). morro de medo de que as pessoas descubram quem eu sou verdadeiramente (antes de mim).

você já fez tanta coisa para quem tem apenas 22 anos...ainda bem que tem medo...senão, onde estaria?

boa sorte na nova investida.