Highlights 2008

Já são três anos de prêmio Highlights, que sempre é publicado no último dia do ano. É momento de reflexão para mim, como pede a data, e ainda serve como registro daquilo que me agradou - e que dificilmente agradará no ano seguinte. Afinal, o mundo é dinâmico e coisas novas surgem, assim como velhas reaparecem.

Enfim.

Fazendo uma auto-crítica, admito que ando meio displicente com o blog - é preciso registrar isso -, mas mesmo assim não desisti dele. Portanto, podem me esperar aqui em 2009, que se repetir este ano já será bom demais. Por fim, desejo à vocês, meus caríssimos e fiéis leitores, um ano novo com amor e saúde. Porque com isso, o resto surge mais fácil.


Música :
- banda: a criativa The Raconteurs, liderada por Jack White (guitarrista do White Stripes).
- álbum: o simples e belo Ao Vivo na Fundição Progresso, do Los Hermanos (eu sei que prometi tirá-los daqui, mas é que eles insistem em lançar bons álbuns, mesmo estando em recesso!).
- show: Molejo, no Juca-2008 (só quem esteve lá sabe como foi bom).
- surpresa: voltar a ouvir Lulu Santos e perceber que não há como esquecer as letras dele.
- decepção: não ter ido em nenhum grande show (que estão cada vez mais caros, diga-se de passagem).
- revelação: The Wombats, banda que ainda não estourou - talvez nem vá - e que me reanimou para o indie-rock (vale procurar por "Let's dance to Joy Division").

Filme :
- o melhor: O Homem que Ri, filme de Paul Leni, integrante do expressionismo alemão, visto com orquestra ao vivo na Mostra de São Paulo (foi emocionante); com menção honrosa para Linha de Passe, de Walter Salles, que certamente é o melhor filme nacional do ano.
- o pior: o nacional Nina, com Guta Stresser (não sei se vi em 2007 ou 2008, mas de tão ruim vale a menção).
- menção honrosa: o documentário Titãs - A Vida até Parece uma Festa, de Branco Mello, e o nacional Apenas o Fim, do estreante Matheus Souza (apesar de o lançamento oficial ser em junho/2009, o vi na Mostra e por isso posso colocá-lo aqui).
- melhor atriz: Penélope Cruz, no papel de uma louca-apaixonada-ciumenta em Vicky Cristina Barcelona.
- melhor ator: Kaique Jesus Santos, o menino que procura seu pai entre os motoristas de ônibus em Linha de Passe (anote este nome, vai por mim).

Livro:
- o instigante: Na Multidão, o (nem tão) novo policial do Luiz Alfredo Garcia-Roza (sempre ele!).
- o sonífero: li pouco em 2008 (confesso!), mas talvez Fim de Partida, de Samuel Beckett, tenha sido um dos vários soniferos que tentei ler este ano.
- o desejado: sem Garcia-Roza no horizonte, fico com Cordilheira, do Daniel Galera.

Lugar:
- restaurante: Yoi!, especialista em temakis, comida que "descobri" em 2008 e pretendo manter o hábito em 2009; menção honrosa para o Kappa Sushi, que também foi bastante freqüentado nessa minha onda oriental.
- rua: av. Ipiranga (no Highlights passado elegi a São João como rua, mas foi pura distração; afinal, a rua do TCC é mesmo a Ipiranga); menção honrosa - pela terceira vez - a av. Paulista (o mesmo comentário: sempre monumental, quase hour-concours)
- barzinho: Restaurante à Mineira, onde reuni os amigos na comemoração do fim do TCC - festa mais badalada do que meus 22 aniversários anteriores!
- passeio: ir a uma boa sala de cinema bem acompanhado (ia colocar "ir ao Marabá", mas a bendita sala insiste em não reabrir!).
- sala de cinema:  boas são algumas, como o Bombril, o Bristol e o Cinemark Santa Cruz, mas ruim são duas, a do Shopping Paulista e a sala 5 do Espaço Unibanco.

Futebol (porque esporte é muito abrangente):
- melhores momentos: Linense, que conquistou o acesso à A-2, estreou em uma competição nacional e almeja alcançar a elite estadual já em 2010.
- piores momentos: novamente, o Atlético Paranaense me decepcionou: perdeu o Paranaense para o Coritiba, a Copa do Brasil para o Corinthians-AL, a Copa Sul-americana para o Chivas e o Brasileiro, ah! o Brasileiro... Três anos seguidos sem nada para se orgulhar não dá, né?
- bola fora: o Atlético, claro, que me fez sofrer até a última rodada do Campeonato Brasileiro por conta da segunda divisão.
- assunto mais chato da crônica esportiva: Ronaldo no Corinthians.

Eu, Jornalismo:
- a melhor: reportagem especial sobre o fenômeno Guaratinguetá, ainda na Gazeta Esportiva (dias viajando atá o Vale, fim de semana escrevendo e tcharã!, deixei um belo relato sobre a alternativa equipe como minha última ação no site)
- a pior: cobertura da PhotoImage para a Photoshop Creative.
- a mais trabalhosa: matéria sobre Mac no Escritório para a Revista Mac+.
- a mais engraçada: resenha sobre uma bíblia digital para a Revista Windows Vista.
- a que não fiz: sobre um cineclube de 16mm em São Paulo (calma, essa ainda pode vir).

Linha de Passe garante primeiro Oscar ao Brasil

Podia ser esta a manchete dos jornais brasileiros após a festa de premiação do próximo Oscar, mas não será. Afinal, o Brasil indicou o fraco Última Parada - 174, de Bruno Barreto, para tentar conquistar o inédito prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Do ponto de vista meramente expectador, uma tremenda injustiça. Afinal, o filme de Walter Salles e Daniela Thomas é muito mais humano, real e brasileiro do que a versão pessoal de Barreto para a requentada tragédia do ônibus 174.

Porém, a não-participação do filme foi uma opção dos próprios autores. A justificativa? Impossibilidade de fazer uma campanha à altura da responsabilidade de representar o Brasil no Oscar. Walter explica: "Linha de Passe foi realizado sem incentivos fiscais, graças à pré-compra feita por vários distribuidores independentes europeus. (...) Para ajudar esses lançamentos, me comprometi a estar presente de setembro a janeiro em festivais e debates na Inglaterra, Bélgica, Grécia, Dinamarca, França, Itália etc. Não há possibilidade de se fazer um trabalho de fundo em duas frentes ao mesmo tempo"

Em todo caso, Linha de Passe é o melhor filme brasileiro de 2008, pois retrata todos os percalços que pessoas comuns enfrentam no cotidiano. Está lá a violência, a falta de oportunidade e os reflexos provocados pelo encontro das duas. Tudo conforme manda a cartilha do cinema nacional contemporâneo. Porém, o filme de Salles vai além e faz uma bela comparação entre o fanatismo do futebol e da religião, entre outras pequenas nuances, que dão ao filme a sensibilidade necessária para alcançar aos que assistem, sejam eles moradores de Cidade Líder ou dos Jardins. Em todos os casos, assistir Linha de Passe é como ver a vida das ruas na tela de cinema.

Ao longo do filme, você fica íntimo e torce pelos quatro filhos de Cleuza, interpretação que rendeu a Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz em Cannes. Seja por Dênis, o motoboy vivido por João Baldasserini; por Dinho, o frentista religioso feito por José Geraldo Rodrigues; por Dario, o aspirante a jogador de futebol interpretado por Vinícius de Oliveira (o mesmo de Central do Brasil); ou por Reginaldo, o caçula levado às telas pela revelação Kaique Jesus Santos. Em todos eles é possível ver personagens comuns ao dia-a-dia - e este é o grande trunfo do filme, os personagens. A realidade do filme é tanta que você sai do cinema para a rua e quase não sente a diferença.