Le cinéma

Quando entrei no Reserva Cultural já era 12h40 de um sábado bem nublado. Estava dez minutos atrasado, mas não havia quase ninguém dentro da sala de espera do cinema, apenas quatro ou cinco funcionários e um homem de estatura mediana, bastante calvo mas ainda com ralos cabelos brancos, barba por fazer e roupa bem alinhada. Logo percebi que ali estava o film maker (diretor) francês que, dias antes, havia me mandado um e-mail solicitando informações sobre onde encontrar meu livro sobre o Cine Marabá.

"Christian?", questionei. Ele acenou que sim e levantou, vindo me cumprimentar. "Nice to meet you", completei. Ele não falava português. Só inglês, francês, italiano e japonês. Ah, tá. Eu, por outro lado, falo apenas português e me arrisco - e muito - no inglês, a língua que escolhemos para aquela conversa. Pedimos dois cafés, o que indicou que a conversa não seria longa. Comecei mostrando o livro, explicando a construção e justificando porque não havia lançado ainda.

Meu inglês não ajudou, mas conseguimos conversar. Perguntei qual era o interesse dele, um cineasta francês desconhecido até mesmo em seu próprio país, num cinema de rua que estava sendo restaurado. A resposta veio quando ele apontou, em uma foto do livro, o Hotel Marabá. Estava hospedado lá, mas não havia conseguido entrar - o cinema ainda está fechado - para conhecer o espaço interno. Ok, mas ainda achei estranho ele se interessar pela sala da avenida Ipiranga.

Mais para frente, confessou que ainda não sabe o que pode produzir sobre o Cine Marabá, mas que poderia filmar até um documentário baseado na história do cinema - e, consequentemente, no meu livro. Depois, folheou o livro por um tempo, fez algumas perguntas sobre o processo de pesquisa e perguntou se eu já havia apresentado esse livro publicamente. Não entendi de primeira. "A lecture", explicou ele. "Lecture?", pensei eu, sem entender direito a ideia. Sim, claro, ele falava de uma leitura, apresentação, palestra!

Gostei da ideia de falar a um público sobre meu livro e sobre a história do Marabá. Para um autor, seja de reportagens ou de livro, é ótimo saber o que pensa o seu público - eu, pelo menos, adoro. Assim, ficou: Christian voltaria para a França na manhã seguinte e, de lá, tentaria contatos para por em prática esse evento, talvez incluindo até a exibição de Desde que Partiste, o primeiro filme exibido na sala, ainda no ano de 1945. Genial.

Até comentei, antes de nos despedirmos e seguirmos por lados distintos da avenida Paulista, quarenta minutos depois de nos encontrarmos, que era curioso saber que um francês - e não um brasileiro - saiu do seu país e se interessou em promover um encontro cultural em memória a uma sala de cinema que ele acabou de conhecer. "Let's stay in touch", disse ele ao fim da conversa e em um e-mail no dia seguinte. Assim, espero. E torço para que dê certo.

6 comentários:

Thá disse...

Se depender da torcida do lado de cá, vai dar certo, sim!

Mas só de ver que um francês se interessou pelo seu livro, e marcou um encontro contigo, já é sensacional, não?

Beijo

Carolina Maria, a Canossa disse...

Um documentário da história do Marabé, baseado no seu livro? Que chique! Vc merece tudo de bom, Júlio!

Fábio disse...

Ê, orgulho. Como é bom sentir isso pelas pessoas de quem se gosta, né? E digo isso de você e também das duas comentaristas aqui de cima. Baita orgulho!

E o fato de ter sido um francês, e não um brasileiro, que se interessou em promover um encontro cultural em memória a uma sala de cinema que ele acabou de conhecer diz muito sobre... Brasil e França, não?

É por isso, entre muitas outras coisas, que eles estão lá. E nós aqui. Infelizmente.

Parabéns, cara! Boa sorte!

Anônimo disse...

Oi Julio!
Cara, boa sorte nessa empreitada. Parece que os estrangeiros se interessam mais pelas nossas coisas que nós mesmos (infelizmente). O brasileiro é muito esquecido da sua história. O paulista e paulistano então...

Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com

Mané disse...

Cara, que sensacional! Tomara que o projeto dê certo!

Estamos na torcida!

Fábio disse...

FORA, MURICY!
FORA, MURICY!
FORA, MURICY!

MURICY JÁ NO ATLÉTICO-PR, PELO AMOR DE DEUS!!!

CHEGA DE PERDER LIBERTADORES PARA TIME BRASILEIRO!!!

Pronto, falei.