Linha de Passe garante primeiro Oscar ao Brasil

Podia ser esta a manchete dos jornais brasileiros após a festa de premiação do próximo Oscar, mas não será. Afinal, o Brasil indicou o fraco Última Parada - 174, de Bruno Barreto, para tentar conquistar o inédito prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Do ponto de vista meramente expectador, uma tremenda injustiça. Afinal, o filme de Walter Salles e Daniela Thomas é muito mais humano, real e brasileiro do que a versão pessoal de Barreto para a requentada tragédia do ônibus 174.

Porém, a não-participação do filme foi uma opção dos próprios autores. A justificativa? Impossibilidade de fazer uma campanha à altura da responsabilidade de representar o Brasil no Oscar. Walter explica: "Linha de Passe foi realizado sem incentivos fiscais, graças à pré-compra feita por vários distribuidores independentes europeus. (...) Para ajudar esses lançamentos, me comprometi a estar presente de setembro a janeiro em festivais e debates na Inglaterra, Bélgica, Grécia, Dinamarca, França, Itália etc. Não há possibilidade de se fazer um trabalho de fundo em duas frentes ao mesmo tempo"

Em todo caso, Linha de Passe é o melhor filme brasileiro de 2008, pois retrata todos os percalços que pessoas comuns enfrentam no cotidiano. Está lá a violência, a falta de oportunidade e os reflexos provocados pelo encontro das duas. Tudo conforme manda a cartilha do cinema nacional contemporâneo. Porém, o filme de Salles vai além e faz uma bela comparação entre o fanatismo do futebol e da religião, entre outras pequenas nuances, que dão ao filme a sensibilidade necessária para alcançar aos que assistem, sejam eles moradores de Cidade Líder ou dos Jardins. Em todos os casos, assistir Linha de Passe é como ver a vida das ruas na tela de cinema.

Ao longo do filme, você fica íntimo e torce pelos quatro filhos de Cleuza, interpretação que rendeu a Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz em Cannes. Seja por Dênis, o motoboy vivido por João Baldasserini; por Dinho, o frentista religioso feito por José Geraldo Rodrigues; por Dario, o aspirante a jogador de futebol interpretado por Vinícius de Oliveira (o mesmo de Central do Brasil); ou por Reginaldo, o caçula levado às telas pela revelação Kaique Jesus Santos. Em todos eles é possível ver personagens comuns ao dia-a-dia - e este é o grande trunfo do filme, os personagens. A realidade do filme é tanta que você sai do cinema para a rua e quase não sente a diferença.

4 comentários:

Anônimo disse...

Linha de Passe é bom demais mesmo, mas sério que Última Parada é fraco? Putz, estava a fim de ver... Humpf.

Anônimo disse...

O Walter Salles não quis concorrer ao Oscar... leia notícias

Julio Simões disse...

Caro sr. Anônimo,

Eu sei disso... leia o post.

Obrigado pela visita.

Sabine Klimt disse...

eu tb achei isso bem chato!