O dia em que, enfim, entrei no Marabá

Durante um ano, tentei atravessar os portões de ferro que cercavam o Cine Marabá. Minha missão era entender a estrutura interna antiga e saber o que seria modificado, já que a antiga sala de 1655 lugares daria lugar a cinco menores. Primeiramente, minha intenção era fotografar tudo e conversar com alguém que pudesse me explicar como seria a reforma. Depois de um tempo, diante da dificuldade de relacionamento com a PlayArte, reduzi as exigências para apenas conhecer o cinema por dentro. Mesmo assim, terminei o livro sem pisar lá.

Mal sabia eu que exatamente dois meses depois da apresentação do livro à banca examinadora, que o classificou como 9,0 e me aprovou em Jornalismo, as coisas aconteceriam. O dia era 19 de janeiro de 2009, uma segunda-feira com pouco sol, mas também sem frio. Naquele dia, não tinha muita coisa para fazer e decidi visitar meu objeto de estudo. Rumei a República e, logo que cheguei, encontrei um amigo-fonte do Hotel Marabá.

- Opa, Julio! Tudo bom? - disse ele.
- Tudo sim. Tô passando pela região e decidi visitar esse cinemão aí - emendei, apontando pro alto.
- Ah, tá ficando bonito. Pena que ainda vai demorar para abrir.
- Sério? Quanto tempo será?
- Era pra ser agora, dia 25 de janeiro, no aniversário de São Paulo. Mas não vai dar tempo não...
- É verdade, parece que falta muita coisa.
- Aham. Eu acho que ainda vai uns três ou quatro meses.
- É, pode ser...
- Quer entrar lá pra ver como está?
- Opa, é possível? Seria ótimo!
- Pode sim, conheço o pessoal dali. Vem cá.

Após uma rápida conversa, o amigo convenceu o pessoal da obra a me deixar olhar o cinema, mesmo que apenas o hall de entrada. "Ele é meu amigo, é aqui do hotel", justificou ele. Talvez o fato de eu estar camuflado como turista, com um short longo, uma camisa pólo e uma pochete tenham reforçado a impressão de que eu era turista. Divagações à parte, a passagem liberada e eu finalmente consegui transpor os tapumes que substituiram o portão de ferro e escondiam a obra.

Alguns passos depois, vi as antigas bilheterias todas restauradas, com o "Marabá" em letras estilizadas muito mais visível do que antes. Mais à frente, outra coisa linda eram as enormes colunas amareladas e o mármore italiano "que não existe mais", como bem disse o engenheiro que me acompanhava. Ele, aliás, me explicou o andamento da obra, as dificuldades e a previsão de entrega. "Torço para que seja daqui um mês e meio", disse. Ou seja, o novo Marabá só deve vir à público em março.

Por fim, vi onde ficarão as bilheterias novas, a bombonière, os banheiros. Tudo ainda está muito incipiente, o que reforça a ideia de que a obra ainda vai demorar. Ao menos o lustre, que deixou o teto do hall para ser restaurado, já está de volta ao seu devido lugar. O enorme espelho ainda não voltou, mas ainda vai voltar. Somente as salas eu não tive acesso, pois ainda estão desfiguradas. Mesmo assim, posso afirmar com toda certeza: o Marabá será o cinema mais lindo de São Paulo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto sobre o Marabá. Aliás, a vontade de ler o seu TCC só aumenta por aqui. Como faço?

E mudando de assunto: seu time merecia ganhar a Copinha, pô. Eliminou Cruzeiro e São Paulo, que tinham muito mais time que o Corinthians, e jogou melhor no Pacaembu. Humpf.