À mostra

Depois de ter assistido apenas ao excelente Trem da Vida no Masp durante toda a Mostra do ano passado, este ano compareci a cinco filmes. Se você pensar bem, quintupliquei a minha marca anterior (dizem que contar filmes é cult, né? rá!) e ainda vi dois filmes que aposto serem fortes candidatos a prêmio. Um bom saldo para quem tem vida fora do festival.

O primeiro que vi foi Sonhando Acordado, um dia depois de abortar a sessão do argentino Las vidas posibles. E a Mostra, para mim, começou da forma mais tradicional possível: com o sol a pino fritando os miolos e alguma confusão. Mesmo assim, nem as fãs de Gael nem a desorganização do péssimo Cinesesc me impediram de assistir a um filme sensível, simples e muito bem feito. Um bom exemplo de como se faz cinema com criatividade em cima de uma história comum, explorando bem o limite mínimo existente entre sonho e realidade.

No dia seguinte, nova experiência no vão livre do Masp. O lugar não chega a ser uma sala de cinema propriamente dita, tem barulho de carros e ônibus passando, mas ainda assim é interessante assistir a um filme enquanto o mundo acontece em volta. A chuva que caiu no dia e as crianças presentes (que sempre demonstram as emoções de forma mais verdadeira possível) também transformaram a sessão da aguardada animação nacional Garoto Cósmico em um evento marcante na minha Mostra. E a sessão aconteceu com a presença do diretor Ale Abreu, todo orgulhoso do "filho" que levou sete anos para ficar pronto.

Depois, fui assistir a comédia francesa La Créme, sobre um pai de família desempregado que ganha de Natal um creme mágico que o torna conhecido, praticamente uma celebridade instantanea, com todas as suas vantagens e desvantagens. O filme é engraçado, tem boas sacadas e superou as minhas expectativas, que são sempre ruins quando se fala em cinema frances. O melhor de tudo, no entanto, foi ver que é possível fazer um bom filme com pouco recurso. Basta ter uma grande idéia. Mais uma vez o diretor - o frances Reynald Bertrand, que tambem é responsável pela montagem, pelo roteiro e pela fotografia - esteve presente na sessão e comentou justamente o fato de não ter tido recursos e mesmo assim ter conquistado espaço em festivais, como a Mostra.

Dias depois, fui ver o aguardado O Banheiro do Papa, uma parceria entre Uruguai e Brasil que retrata a situação da pequena cidade uruguaia Melo, localizada na divisão com o Brasil. Lá, a pobreza do país vizinho é evidente e bem retratada, sem apelação. A história, entao, gira em torno da visita do Papa Joao Paulo II ao vilarejo em 1989, que passa a ser a chance de dinheiro extra para a fragilizada população do municipio. Acredite: o filme é lindo, tanto pela estetica quanto pela narrativa. E é essa junção que eu acho que vai ganhar algum premio - o texto levou tanto tempo para ser escrito que o filme já ganhou, o do júri especializado!

No mesmo dia, acabei entrando sem pretensoes na sessao de Pequenas Historias, filme brasileiro de Helvecio Ratton - que esteve na sala para apresentar ao publico sua criaçao, voltada para as crianças, mas acessível também para aqueles que as levam ao cinema - que reune quatro contos curtos que parecem mais lendas. Sob a justificativa de quem conta um conto aumenta um ponto, Marieta Severo conduz e costura uma série de capítulos sensíveis e dotados de moral. Se nem todos são tão bons, vale destacar aqueles em que atuam os brilhantes Gero Camilo e Paulo José.

Por fim, fiz da minha última ida a Mostra mais uma chance de ver um filme nacional: Estômago. No começo, achava que o filme seria mais um daqueles novelescos típicos da GloboFilmes, mas a historia vai ganhando forma e, especialmente pela maneira como é contada, se torna diferente do habitual, o que já é um ponto positivo. Além disso, o elenco - as revelaçoes João Miguel e Fabiula Nascimento, especialmente - corresponde e torna o filme uma grata surpresa. Sai achando que seria um forte concorrente para o premio de melhor pelicula brasileira, mas Estórias de Trancoso foi o escolhido.

Enfim, foram bons dias indo ao cinema com pretensoes minimas para depois acabar se surpreendendo com quase tudo. Agora, caro leitor cinefilo, é buscar manter o desempenho de filmes vistos no ano que vem e chegar mais perto nos chutes dos premiados. Até lá.

3 comentários:

Gabriel Affonso-Morales disse...

O frequentador da mostra é antes de tudo um forte.

Anônimo disse...

filmes franceses...La Créme...Pequenas Historias...Estórias de Trancoso...

Engraçado, até reconheço estes filmes entre a minha lista de seleção para a Mostra... fico feliz que vc tenha-os visto (por mim). Gostaria de saber mais sobre eles...

Lui disse...

Aaaaaah, nada como a Mostra...