Ela vai partir. Eu vou ficar. Ela vai pensar em mim o vôo todo. Eu vou dirigir desatento, tentando não chorar. Ela vai desembarcar em Lisboa ainda com o o gosto do beijo na boca. Eu vou abrir a porta do apartamento vazio e caminhar lentamente até o porta-retrato. Ela vai chorar sozinha no fim de cada dia. Eu não vou conseguir trabalhar, comer, viver.
- Fica, vai.
- Não posso, você sabe.
E depois do silêncio veio o abraço mais longo do mundo, seguido do beijo mais intenso do mundo. Pelo menos para eles.
Ela partiu. Eu fiquei. Ela pensou em mim o vôo todo, mas recorreu à bebida oferecida e até fez uma amizade. Eu dirigi desatento, quase bati o carro, mas cheguei a cidade com vontade de beber com os amigos. Ela desembarcou em Lisboa com o gosto do último beijo na boca misturado com o do uísque servido pela aeromoça arrogante. Eu abri o apartamento e só tive forças de cair no sofá, bêbado. Ela chorou baixinho, escondida no banheiro. Eu não consegui comer, trabalhar e viver. Ambos só por uma semana.
Hoje, duas semanas depois, não nos falamos mais.
Por Julio Simões, de Cumbica, em 21 de setembro de 2007.
Memórias
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Despedida em aeroporto é a pior das despedidas...
Eu pergunto? Ficção? ;-)
Ainda não passaram duas semanas...!
viu só? uma ótima atividade (e distração) para se ter num aeroporto. Ah, se todas as atividades em tempos ociosos fossem criativas assim... num pára de escrever não, tá?
q triste...
Postar um comentário