Acredite! (se quiser...)

Tem coisas que você pode acreditar ou não, fica à seu critério. Era almoço de Natal, aquele tradicional que reúne as mesmas pessoas da noite anterior dispostas a comer exatamente tudo o que fora servido antes como se fosse novidade. Passado os comes e bebes, sentei me perto das tias, avó e mãe. Sem perceber - e cheio de tédio - acabei entrando em um teste "de uma psico-pedagoga aí", como justificou a organizadora da atividade.

Sentados em círculo e munidos com folha de caderno infantil e caneta, começamos a responder as perguntas que prometiam, ao final da análise, revelar quem era você. Praticamente um milagre. A primeira missão era enumerar três animais de seu gosto em ordem de relevância - sempre de acordo com sua opinião, claro. Para cada um, colocar três características que destaque e justifique a escolha.

Sem dizer o porquê das perguntas e já pedindo para colocar "o que você acha do mar", a tia organizadora do "conheça-te a ti mesmo" seguia adiante sem deixar os participantes pensarem. Na seqüência, emendou: "Agora, escrevam como deve ser uma xícara para vocês". A cara das participantes - umas sete mulheres e o intruso aqui - ia cada vez mais se tranformando em interrogação. E das grandes.

Adiante, pediu para dizer o que te representa um muro e como seria a primeira imagem de uma estrada. Para continuar a loucura, a tia-pseudo-psico-pedagoga perguntou o que faria com um molho de chaves que encontrasse no chão. Para cada pergunta era dado o tempo estimado de dois minutos, no máximo, período este completado com risadas de uns e sorrisos amarelos de outros.

Para completar o teste e não estender mais o texto para a curiosa leitora e ao paciente leitor, digo que foi pedido para descrever também a reação diante de um leão e de uma cachoeira em dia de calor. Uma de cada vez, vale dizer. Ah! E ainda teve outra sobre o muro: o que você faria diante de um muro que atrapalhasse seu caminho no final de uma trilha?

Assim, passados uma hora e meia aproximadamente, chegamos ao momento mais esperado. Uma a uma, as folhas foram sendo lidas e analisadas. A cada resposta, a confirmação de que se tratava mesmo da verdade. Até para este incrédulo blogueiro, a verdade dita ali na pequena sala do subúrbio de Castro (PR) era inevitavelmente verdade.

Sob gritos, aplausos e risadas à la chá das cinco na casa da avó, as pessoas descobriam como as pessoas as vêem (primeiro animal da lista, lembra?), como você se vê (segundo animal) e como é realmente (terceiro animal). Depois, mais euforia quando descobriam que o mar, na verdade, era a visão do amor para a pessoa, ao passo que a simples xícara era o sexo.

Pela ordem, o muro era a alegoria da morte, enquanto a estrada representava a ambição de futuro. O molho de chaves, acreditem, revelava como você lida com os amigos. Já o leão, como você enfrenta o medo. Por fim, vale dizer que a cachoeira era a metáfora do casamento e o muro no final da trilha dizia como você encara a morte realmente, não apenas como você a enxerga.

A sala ficava perplexa a cada nova resposta e passava a acreditar nas palavras da tia, já chamada por alguns naquele momento de "vidente". Enfim, tirando o fato de que as primeiras respostas (e a maioria das outras) só apontavam pontos positivos do caráter de cada um, fica a dúvida: será que por adjetivos em resposta à alegorias é possível saber como uma pessoa age em seu íntimo? É de se pensar.

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