O golpe

Acordou com o tilintar do telefone. Eram nove e meia da manhã e ele, ainda com o rosto inchado, correu de meias pelo chão de madeira até o aparelho. Quando atendeu, a surpresa.

"É Rodolfo?", disse a voz grossa do outro lado.
"Ele mesmo. Quem fala?", respondeu.
"Não interessa. Ele tá com a gente"
"Ele?"
"Ele. O Luís, seu irmão. E é melhor começar a pensar em arranjar a grana se quiser ver ele de novo"

Ele gelou. Pelo menos até perceber uma coisa.
"Hum... mas como, se eu não tenho irmão?"
"..."
"Alô?"
"É, então... vai dizer que não conhece o Luís? Ele disse ser seu irmão"
"Disse é? Mas não é."
"Então é o que?"
"Nada, simplesmente não sei quem é"
"Hum, então espera um minuto"

Ao fundo, ouviu sussurros. Só conseguiu pescar uns palavrões e coisas como "quem é, então?" e "vai pedir o quê agora".
"Pois então, seu Rodolfo. A gente achou que seqüestrou seu irmão, mas pelo jeito não é"
"E?"
"E a gente queria pedir desculpas pelo engano"
"Ok, aceito. Mas soltem o rapaz, pelo menos"
"Ah, isso já não sei. Vamos ver"
"Vocês quem sabem..."
"Então é isso. Tchau"
"Tchau"

Desligou o telefone e após cinco segundos de reflexão tomou novamente o aparelho, discou correndo os oito números e esperou. Era o irmão do outro lado, são e salvo. Quando a ficha caiu, percebeu que tudo era falso, desde o pedido de resgate ao de desculpas. Diante disso, sentou-se no sofá e gargalhou. Era o melhor trote de sua vida.

autoria: Julio Simões - data: 26/12/06

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