Buenos Aires: Oslo é logo ali

A primeira idéia que se tem quando se escolhe viajar para qualquer país da América Latina é que não serão raros os encontros com conterrâneos. Afinal, brasileiro é uma praga e dá em qualquer lugar. Com todo o respeito, claro. Em Buenos Aires, então, que é praticamente “a casa ao lado”, não deveria ser diferente. Mas, pelo menos para mim, foi.

Embora antes de deixar o país eu tivesse visto reportagens indicando o aumento da procura por Buenos Aires nas férias, não encontrei tantos brasileiros quanto esperava. Isso me dava uma certa angústia, afinal você fica mais nacionalista quando deixa para trás a sua terra natal.

Tanto que no hostel (nome moderninho para os velhos e tradicionais albergues da juventude), eu era o único nascido no país do samba, futebol e mulatas. E só. O resto era de outros países da América ou da Europa. E o pior disso tudo: a maioria que pude constatar vinha da... Noruega! Sim, o gélido país da península escandinava dominava o local.

Pelo que lembro ter contado, cerca de dez noruegueses estavam hospedados no hostel. E todos em pequenos grupos sem ligação uns com os outros. Era na hora que todos sentavam para bater papo que eles iam se descobrindo. E passavam a falar um dialeto pouco compreensivo, sonoramente parecido com o alemão.

Mas porque diabos os noruegueses escolheram Buenos Aires, capital de um país sub-desenvolvido que passou recentemente por uma grave crise econômica? Creio que pelo baixo custo da viagem para eles – se para o resto da Europa que adota o Euro e para nós, brasileiros, é vantajoso ir, imagine para eles! – e pelo fato da Noruega ser fria nessa época.

Quanto a personalidade dos noruegueses, pelo menos daqueles que estavam por lá, pode-se dizer que são bastante comunicativos. Mesmo assim, não chegam nem aos pés daqueles que tem influência latina, como italianos e chilenos, outras duas nacionalidades com que tive contato por lá.

Além de Chile, Itália e Noruega, era comum encontrar gente da Dinamarca, de Israel, da Inglaterra, do Canadá e da Austrália. À noite, me sentia numa verdadeira reunião das Nações Unidas. Os assuntos, porém, passavam de bebidas típicas dos países até a troca de experiências e muito, mas muito, assunto relativo à língua de cada país.

Nesses dias, pude tirar algumas conclusões. A típica frase “o mundo fala inglês” é mentira. A maioria fala só o seu dialeto e pronto. Assim, por falar um inglês enferrujado e um portunhol canalha, acabava sendo usado como intérprete entre chilenos e noruegueses. E se os países não declararam guerra até agora, creio que cumpri bem meu papel.

Outra coisa é relativa à imagem do Brasil no exterior. Além de ser abordado quase sempre para opinar sobre o futebol brasileiro, ainda era perguntado sobre a qualidade das praias brasileiras, sobre as mulheres e, pior, sobre o nível de violência. É incrível quanto os gringos acham que estamos em guerra civil.

Ok, até estamos, mas não é para tanto. Sempre quando me deparava com uma dessas visões distorcidas, tentava explicar que estamos sujeitos a violência em Buenos Aires, no Rio ou em Oslo – ok, a Noruega não entra nisso. E incentivava a visita a destinos brasileiros, como Florianópolis e Salvador. Era praticamente um voluntário do turismo nacional.

Já quanto a personalidade de cada um, é difícil definir e traduzir em palavras. Afinal, todo mundo estava ali para conhecer lugares e pessoas. E essa talvez seja o grande trunfo de se conhecer outros países e culturas. Porque, embora tenha ido para a Argentina, sinto que conheci um pouco mais de cada país que estava ali e aprendi muito mais sobre o mundo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Legal Julio,sua visão da terra portenha e bem interessante.Estou indo para Bueno Aires agora em novembro/07,passei por aqui para ver sua como foi sua estadia,gostei você reagiu bem a esse choque de culturas e defendeu bem o seu futebol...estamos todos sujeitos a violência.

Até mais
Patrcia Lara