Traços coloridos

Logo na entrada, o colorido toma conta do visual e o efeito é sempre o mesmo: deslumbramento. Afinal, é impossível não sorrir diante do fantástico mundo das animações. Até mesmo aqueles que não são fanáticos, como eu, se deixaram levar pela magia do maior festival de animação latino-americano, o Anima Mundi, que teve sua versão paulistana entre os dias 12 e 15 deste mês, no Memorial da América Latina, na Barra Funda.

Senti a sensação de desbravar uma região desconhecida já na quinta-feira, quando acompanhei a primeira sessão do evento, ao lado da érretevê Milly. Logo no começo foi possível perceber a importância dos filmes - curta-metragens, em sua maioria - para muitos ali, já que a abertura aconteceu na hora do almoço de um dia de semana e mesmo assim havia bastante gente interessada em conferir os "desenhinhos".

E logo na primeira sessão fui surpreendido pelo nacional "Um final feliz". O curta conta a história de um pássaro chefe de família, que transita pelas regiões arborizadas de São Paulo. Há violência e sexo, como manda o manual dos filmes brasileiros. Além desse, vale destacar também o norte-americano "Journey to the Disney Vault" (algo como "Jornada ao cofre da Disney"), que manteve a linha subversiva ao revelar o lado obscuro do mais famoso estúdio de animação do mundo.

A surpresa foi tão positiva que voltei no sábado. E para uma verdadeira maratona. Às 13 horas, ainda com pouco movimento - mas muito maior que na quinta - fomos conferir a sessão Curtas 10, onde novamente um brasileiro abriu a seqüência e me chamou a atenção. "Vida Maria" conta a história de vida de uma nordestina que, forçada a interromper seus estudos para trabalhar, vê a vida se repetir num ciclo sem fim.

O filme posterior a esse, porém, que mais me conquistou. "The Danish Poet" (algo como "O Poeta Dinamarquês") já havia convencido a Academia, que acabou premiando-o com o Oscar de Melhor Animação na cerimônia deste ano. E realmente não decepciona. Retrata com sensibilidade, seja nos traços como no roteiro, a história de Kaspar, um poeta dinamarquês em crise de inspiração que encontra o amor numa viagem de férias, mas é impedido de realizá-lo pelo destino. Apesar de tantos curtas vistos (creio que mais de 40!), aponto-o como o melhor de todos.

Mas quando eu já achava ter visto tudo, veio a sessão infantil às 15 horas. Nada melhor que conferir no olhar e nas risadas da criançada o significado dos desenhos animados. Logo na fila era possível ver uma inversão de "valores": eram as crianças que levavam os pais, não o contrário. E até mesmo eles se rendiam à comédia do britânico "Roxo e Marrom", de longe o mais engraçado que vi. Vale destacar também a saga do espanhol "Capelito Pesca-Poco", curta que mostra as tentativas de um cogumelinho para pescar com apetrechos tecnológicos.

Só que ainda tinha outras boas coisas a conferir em outros horários. Na seqüência, deixamos a criançada de lado e voltamos aos desenhos de, digamos, temática adulta. De histórias simples, passamos a temas de loucura (como no português "Jantar em Lisboa"), sexo (no ítalo-leto-sueco-americano "Teat Beat of Sex") e até sobre celebridade instantânea (no francês "Making Of").

Meu destaque para a sessão das 16 horas, porém, fica por conta do finlandês "Tango Finlandia", em que dois brutamontes sem nada melhor para fazer resolvem lutar em ritmo de tango num bar; e do brasileiro "Limbo", sobre a saga de um ateu após a morte. Os dois, além de bem feitos, ainda souberam tratar de temas simples e corriqueiros com humor (negro, até) único.

Ainda assim, apesar do cansaço, havia tempo para conferir o elogiadíssimo "No Time for Nuts" às 19 horas. Para quem viu "A Era do Gelo", o esquilo Scrat já fazia rir só pela expressão. No curta, que teve a participação do brasileiro Carlos Saldanha na produção, o animalzinho tenta enterrar sua noz e encontra um aparelho que o transporta através do tempo. Além desse "blockbuster", ainda vale destacar o francês "Apnee" e o alemão "Georg Wächst", nos quais a técnica utilizada impressiona.

Enfim, nunca esperava me divertir tanto com desenhos, ainda mais desconhecidos. Se você não foi, perdeu. É bem provável que você responda que não soube do festival, afinal a divulgação ainda é restrita. Mesmo assim, vale dizer: tem mais no ano que vem. Junte sua curiosidade, um pouco de dinheiro (a meia entrada, acredite, custou R$ 3!) e vá. Garanto que valerá a pena.

Curtas e grossas:

- O outro lado - Eu sei que fui só elogios nas linhas que seguiram acima. Pois então vale fazer uma pequena lista negra do AnimaMundi. Aqueles que, mesmo tendo no máximo 15 minutos, me fizeram querer deixar da sala ou me deram sono equivalente a quando assisto um jogo do Brasil. São eles: o norte-americano "Drawing Lessons", o croata "Silencijum", o tcheco (e impronunciável) "Nestastné Nardzeniny Péti Fotky", o inglês "Forest Murmurs", o estoniano "Une Instituut" e o australiano "Dust Echoes 2: Whirlpool", além do alemão "Lua Lunática" e do brasileiro "Palavra Animada", ambos infantis.

- Para não dizer que não falei das flores - Tava tudo muito organizado, bonito e feliz. Só os preços dos produtos vendidos no local que não. Não vou lembrar todos os preços de cor, mas dá para dizer que todos eram muito superiores a uma lanchonete "clandestina" - pertence ao Memorial, não ao evento - que ficava a poucos passos dali.

2 comentários:

Diana disse...

nossa, to tão desatualizada q nem sabia q tava tendo anima mundi. e olha q fui nos dois últimos! de fato é bem legal, mas tipo.. os curtas eram de graça? pq quando fui não era. e lembro q acabava indo uma graninha... mas, enfim! pena mesmo q perdi.

Milly disse...

Ah, eu sabia que vc ia reclamar dos preços! Só esqueceu de falar que não tinha um restaurante decente.
mas.. êêê que bom que você se divertiu! Acho que o Danish Poet foi o meu favorito também, sem falar no hour concours (rá!) da Blue Sky.
Peraí.. nada a declarar sobre as animações eslavas?

P.S.: Érretevê é um bom adjetivo... esclarecedor.

Beijo e rumo à Mostra, né! ;)