A velhinha, o moço e o Gato Preto

A história não aconteceu no curto espaço entre o 12° andar do meu prédio e a rua, mas foi como se fosse. Na verdade, o diálogo se passou no supermercado que freqüento, na rua Pamplona, quase na esquina com a alameda Santos. Enfim.

Sábado de sol em São Paulo. Resolvo ir de bermuda e chinelo até o mercado comprar coisas para um almoço digno de um dia ensolarado e feliz. Ando pelas prateleiras em busca de comida, compro nhoque congelado e acessórios para exercer meu lado chef e, como quase sempre, decido dar uma passadinha pela seção de vinhos.

Eis que, enquanto olhava as opções mais "em conta" do charmoso espaço vinícola do mercado, sou abordado por uma velhinha, que tinha em mãos um iogurte Vigor.

- Moço, você enxerga bem letras pequenas?
- Sim, claro.
- Então veja aqui pra mim a validade, por favor.
- Hm, 30 de maio de 2008. Pouco mais de um mês, senhora.
- Ah, obrigada...

E seguiu empurrando seu carrinho de compras pela congelante seção de frios. Voltei, então, a minha análise (de preços, diga-se de passagem) dos vinhos à disposição. Quando estava prestes a pegar um argentino de Mendoza, que saia por amáveis R$ 9, 90, ouvi a voz fina, rouca e baixinha de novo.

- Olha, tem um vinho chamado Gato Preto que é ótimo, viu.
- Oi? Ahn, Gato Preto?
- É, sim.
- Parece que aqui não tem...
- Num sei. Mas ali na Brigadeiro Luiz Antônio eu sei que tem.
- Ali no Extra da Brigadeiro?
- Não, não. Numa adega, que fica na Brigadeiro, ali entre a Itu e a Jaú. É boa, dá pra ir de carro, tem estacionamento...
- Ah, sim. Vou procurar.

E quando olhei para o lado, a velhinha já estava no fim do corredor, empurrando seu carrinho de compras. Arrisquei um "obrigado, viu" baixinho, que obviamente não foi ouvido, e segui analisando economicamente os vinhos. Eis que, correndo os olhos pelas prateleiras, avisto um Gato Preto, em letras quase garrafais - com o perdão do trocadilho, meus caros.

Aí não teve como evitar. Peguei o vinho, que é chileno e, no caso, tinto tipo Carmenère. Analisei o preço: R$20. Voltei a olhar a prateleira, o vinho, a prateleira, o vinho. Mais pra cima, enxerguei um Cabernet Sauvignon. Pronto, pus na cestinha e saí pensando na velhinha...

Serviço:
Pra quem se interessar pela dica da velhinha, o Pão de Açucar oferece o Gato Preto. Dá pra comprar pela internet bem aqui.

3 comentários:

Felipe Held disse...

Sugestão devidamente anotada.

Anônimo disse...

A velhinha deve saber das coisas.

Anônimo disse...

Ei, eu sei onde fica essa adega. E qualquer dia, me arrisco também.